18/11/2025
Imagine ser tão boa no que faz que começam a desconfiar que tem algo de errado com você. Foi o que aconteceu com Caster Semenya, corredora sul-africana bicampeã olímpica nos 800 metros.
Depois de vencer quase tudo, ela passou a ser questionada porque tinha níveis naturalmente mais altos de testosterona. Descobriu-se que ela nasceu com um tipo de DDS, Distúrbios de Diferenciação Sexual, e isso causa produção aumentada de hormônios andrógenos, hormônios associados ao s**o masculino, que poderiam aumentar a massa muscular e melhorar o desempenho físico.
A entidade esportiva decidiu que, para competir, ela precisaria tomar medicamentos para reduzir essa testosterona. O problema é que essa “regra” ignora que o corpo dela funciona assim desde sempre. E que mexer em um hormônio não é algo simples: pode afetar ossos, metabolismo, humor, fertilidade e até a identidade da pessoa.
Semenya recusou o tratamento e levou o caso à Justiça. Até hoje, luta pelo direito de competir com o corpo que tem, sem precisar alterar sua biologia natural para caber em uma categoria esportiva.
E o debate está longe de acabar. A discussão sobre gênero e elegibilidade segue abalando o mundo esportivo. Sob pressão de diversas modalidades, o Comitê Olímpico Internacional cogita retomar verificações de gênero. Enquanto isso, World Athletics, World Boxing e World Aquatics já anunciaram que vão adotar te**es cromossômicos, limitando competições femininas a atletas com cromossomos XX, o que exclui mulheres trans e pessoas inters**o com cromossomos XY, incluindo muitas classificadas como portadoras de DDS.
É um tema em que ciência, esporte, identidade e direitos humanos se chocam, e onde vidas reais, como a de Semenya, acabam no centro da disputa.
Fontes:
https://www.theguardian.com/sport/2023/jul/11/caster-semenya-discriminated-against-by-testosterone-levels-rules-echr?
https://www.tas-cas.org/fileadmin/user_upload/Media_Release_Semenya_ASA_IAAF_decision.pdf