
18/09/2025
Nota de Repúdio do Fórum Gaúcho de Saúde Mental
O assassinato de Herick, jovem de 29 anos diagnosticado com esquizofrenia, baleado pela
Brigada Militar em meio a uma crise em Porto Alegre no dia 15 de setembro de 2025, revela
com brutal clareza a face mais cruel da política de segurança que insiste em tratar o sofrimento psíquico como caso de polícia. A morte covarde não pode ser normalizada nem relativizada: ela é resultado direto da ausência de protocolos de cuidado, da negligência do Estado em investir em serviços substitutivos e da falência de uma rede de atenção psicossocial que deveria acolher e não exterminar vidas. Cada bala disparada contra alguém em crise é uma sentença contra a luta antimanicomial, porque reafirma a lógica manicomial que reduz pessoas a perigos a serem contidos pela força, em vez de cidadãos a serem cuidados com dignidade.
Não é aceitável que diante de um surto psiquiátrico, a resposta imediata seja a violência
armada, quando deveria ser o acionamento de equipes de saúde preparadas para agir com
acolhimento, contenção adequada e escuta qualificada. O Estado falhou com Herick, falhou
com sua família que presenciou a cena de horror e falha diariamente com milhares de pessoas que vivem em sofrimento psíquico sem acesso real a CAPS fortalecidos, a equipes de crise e a uma rede de apoio comunitário eficaz. Esse caso é um retrato das escolhas políticas que priorizam a militarização e o controle em detrimento do cuidado e da vida.
O Fórum Gaúcho de Saúde Mental denuncia esse crime como uma violação de direitos
humanos e como expressão da barbárie manicomial que persiste, ainda que disfarçada em discursos de modernização. Defendemos justiça para Herick, reparação para sua família e,
sobretudo, a responsabilização do poder público que tem se mostrado cúmplice ao não garantir protocolos seguros e ao permitir que vidas sejam ceifadas pela incapacidade do Estado de articular saúde e segurança de forma humanizada. É urgente fortalecer a rede de
atenção psicossocial, ampliar CAPS e consolidar práticas de educação permanente junto às equipes de saúde e emergências, retirando da polícia o protagonismo em situações de crise.
Seguiremos denunciando que manicômio não é apenas o prédio com grades e celas, mas
também a prática de excluir, reprimir e matar em vez de cuidar. A luta antimanicomial se
levanta diante da memória de Herick e de tantos outros que tiveram suas vidas interrompidas pelo descaso estatal. Não aceitaremos que a morte seja a resposta para o sofrimento psíquico. Nossa voz permanece firme: por uma sociedade sem manicômios, por cuidado em liberdade, por justiça e por vida.
Nossa solidariedade à família, aos amigos e técnicos que acompanhavam o caso.
Porto Alegre, 17 de Setembro de 2026