26/05/2023
Nestes anos de prática clínica, uma coisa que ainda me chama atenção é a necessidade que temos de sentir que estamos no controle da nossa vida, das coisas ao redor, das pessoas, etc. Em cada processo que acompanho, também no meu, percebo que essa ideia é tão utópica, visto que o controle que temos é tão ínfimo.
Mas parece que precisamos disso ou de pelo menos sentir que estamos no controle. Seria por medo? Por liberdade? Por poder? Dominação?
Ocorre que, na medida que f**amos tão fixados na ideia de controle, esquecemos de ouvir aquilo que fala dentro de nós.
Na realidade, vivemos em um conflito constante de opostos. Certo ou errado, bem ou mal, sim ou não. Valores, regras e convicções fazem com que fiquemos sempre em alerta avaliando se aquilo a que nos propomos a fazer corresponde aos padrões sociais.
Contudo, no encontro interior, constatamos o paradoxo da alma. Esta não é regida pelo tempo e espaço, não obedece as leis sociais, não se importa para regras, convicções e valores. A ALMA É TRANSGRESSORA.
A alma age no polo oposto do controle. Coloca-nos na contramão daquilo que julgamos ideal. Chama para o confronto. Põe em cheque os julgamentos e as certezas. Abala, ultrapassa e informa veementemente sobre a nossa incontrolável existência.
Talvez esse seja o maior conflito existencial, do qual esquivamos o tempo todo, mas que ora ou outra nos deixa sem saída: lutamos pelo controle e ignoramos os gritos da alma ou a ouvimos.
A verdade é que: ou acolhemos os desejos da alma ou f**armos para sempre à margem da nossa existência.