22/05/2025
# ontem eu e uma paciente de dez anos(dez anos em análise) nos despedimos. o trocadilho com as idades não é coincidência porque como nos lembra Freud “o inconsciente é infantil”. ela veio para tratar de um luto. mas como acontece com os pacientes que entram em análise, tratou da vida. com a coragem que a análise exige tratou da própria existência. me falou que não foram poucas ás vezes em que saiu da sessão muito irritada comigo porque eu devolvia a pergunta nos momentos em que ela queria uma resposta. mas foi compreendendo que as respostas estavam com ela e não comigo. a psicanálise nunca prometeu nada a ninguém. porque não prometemos o que não podemos entregar. e sim. tem coisas nessa jornada da vida que não encontraremos respostas. e não respondido estará. então para que serve a psicanálise? para nada além do que serve a vida. um encontro com nossa própria existência. numa distância/constância sustentada pela escuta desse outro. o analista. encontro sustentado por uma forma de amor que Freud chamou de “amor de transferência”. que no curso do trabalho da análise vai tratando/mobilizando afetos e ressignif**ando experiências. trabalho da análise. se trata de um trabalho imenso. um trabalho que vai construindo pontes com aquilo que está encoberto(se preferirem recalcado) nas criptas de nosso passado de nossa origem de nossa história de existir. sobreviver. viver. portanto não há o que se prometer ao paciente se não a possibilidade desse encontro. quanto tempo vai durar também não se sabe. esse durou dez anos. mas como ela mesmo disse. um dia talvez ela volte. talvez. eu sigo aqui. sustentada pelo amor imenso que sinto por esse meu ofício. e grata. imensamente grata.♥️
Cristina Marcondes
Psicanálista