23/08/2025
A gente começa se despedindo cedo: do berço, dos primeiros passos, do colo constante. Da chupeta, do cobertor preferido, daquele brinquedo que era o mundo inteiro. A infância já ensina, aos poucos, que nada é para sempre.
Depois vem a escola: a professora querida que, no ano seguinte, não está mais lá; o melhor amigo que mudou de sala; o recreio que já não tem o mesmo sabor.
Na adolescência, mais despedidas: do corpo de antes, da inocência, das conversas com os pais que parecem distantes. Dos finais de semana em casa. Até de quem a gente jurou que seria pra sempre. Amizades mudam. Amores também.
De repente, a vida vira uma sequência de partidas: sair da casa dos pais, da cidade natal, do quarto cheio de histórias. A mãe dizendo “se cuida” na porta; o pai fingindo não se emocionar. A gente trabalha, conhece gente, se apega — e vê pessoas indo embora: emprego novo, cidade nova, gente que muda por dentro. E a gente aprende a deixar ir.
A vida adulta chega com despedidas mais fundas: do tempo, da liberdade, da leveza de antes. Vêm a correria, as contas, as responsabilidades — e a saudade do simples. Às vezes, é preciso se despedir de um amor que parecia pra sempre, de um plano que não deu certo. E segue, mesmo de coração em pedaços.
Mais tarde, as despedidas para as quais ninguém está pronto: a avó que não está mais na cozinha; o vô das histórias virando lembrança. A dor vem nos detalhes: o prato favorito que ninguém faz, a cadeira vazia, a voz de quem se foi, que falha na memória.
A vida afina tudo. Reduz. Corta. Deixa só o essencial — e, ainda assim, o essencial também parte. Amigos tomam outros rumos, filhos crescem, pais envelhecem e um dia partem.
Então a gente entende: a vida inteira foi sobre se despedir — de pessoas, lugares, fases e versões nossas. A gente vai se esvaziando aos poucos, sem perceber. E quando percebe, é hora de partir também.
Mesmo assim, a gente continua: amando, tentando, vivendo.
Porque, apesar de a vida ser feita de despedidas, ela também é feita de reencontros — nem que seja dentro da gente. 💛
Texto adaptado de Felipe Reis