21/07/2025
Os Perpétuos de Sandman: Arquétipos, Sofrimento e o Humano em Nós
Os Perpétuos de Sandman — Sonho, Morte, Desejo, Desespero, Delírio, Destino e Destruição — não são apenas entidades míticas de uma narrativa fantástica. São símbolos vivos das forças psíquicas que habitam a alma humana. Arquétipos que, quando reconhecidos, nos ajudam a compreender o que sentimos, o que tememos e o que buscamos silenciosamente em nossa jornada.
Sonho, com sua rigidez e propósito, representa o esforço de moldar o mundo interno e externo a partir da imaginação e da estrutura. Ele sonha com ordem, com sentido. Mas seu maior antagonista é o Desejo — volátil, ambíguo, provocador. Onde o Sonho constrói, o Desejo desvia. Onde há rumo, o Desejo semeia desvios. Desejo é potência bruta, sem compromisso com coerência. E, talvez por isso, sua irmã mais próxima seja o Desespero.
Desejo e Desespero são quase inseparáveis: o anseio intenso que, quando frustrado, mergulha em angústia profunda. Quantas vezes nossos desejos, não atendidos, nos empurram para o vazio da desesperança? Desejo sussurra promessas. Desespero nos mostra os escombros do que não foi. A saúde mental humana transita nesse fio tênue — entre a euforia do querer e a dor de não alcançar.
Quando Morfeu perde quem ama, inicia-se seu mergulho no luto. Busca ajuda da Esperança e não é atendido. Acompanha Delírio, e juntos buscam a Destruição. E o que encontram não é violência, mas ausência. Destruição se recusou a seguir o jogo dos Perpétuos. Ele entendeu que romper nem sempre liberta — às vezes, é necessário partir para preservar o que resta de si.
Essa ausência nos fala daquilo que evitamos: o impulso autodestrutivo que habita quem não aceita a perda. E, ao negarmos essa dor, sem apoio e sem palavras, fazemos da destruição um caminho possível. E então, finalmente, Morfeu encontra a Morte. Mas não como fim. Como metáfora. Porque, ao negar o luto, ele morre por dentro. Isola-se. E encontra no sofrimento sua única companhia.
Sandman não fala apenas de fantasia — fala de nós.