29/05/2023
O PORQUÊ DE TANTA SOLIDÃO?
Falar desse sentimento é falar de muita coisa, são muitos os pontos que compõem a solidão e, sobretudo, nos moldes da nossa sociedade atual esses pontos não param de aparecer. Para começar podemos definir a solidão como:
“Estado de quem se acha ou se sente desamparado ou só; isolamento. Sentimento de estar separado dos outros, um sentimento de não totalidade, sendo, muitas das vezes, não construtivo, desintegrativo e sem objetivo orientado.”.
Não é curioso pensar que as pessoas reclamam de se sentirem sozinhas na vida (muitas das vezes só para si mesmas ou pessoas bem íntimas que confessam) mesmo quando tem seus mais de 20 mil seguidos nas redes sociais, mesmo com convites para todos os seus finais de semana e mesmo com uma casa quantitativamente bem frequentada (?), bem, eu acho muito curioso!
Sentir-se sozinho é normal em alguns momentos da vida, na verdade, é condição primeira para que, muitas das vezes possamos nos movimentar em busca de sentido na nossa vida, porque é na tentativa de preenchermos essa solidão que vamos construindo experiencia de vivência. No entanto, sentir-se assim na maior parte do tempo, mesmo quando se está buscando dar sentido à vida, pode ser sofredor, angustiante e paralisante. A solidão duradoura é sinal de ausência existencial, sinal de perca de interesse e sinal de que falta algo (proposito, metas, objetivos, sonhos...) que motive a nossa caminhada pela terra.
Gostaria de tocar em três pontos importantes para mim quando penso a solidão: as relações; as mudanças e o tempo.
Sobre as relações, gosto de pensar que um sentimento de solidão duradouro é como uma grande árvore e, como toda árvore, tem raiz e já foi semente. Logo, a raiz do nascimento desse sentimento pode estar na relação familiar. É verdade que os moldes familiares da vida contemporânea estão mudando de tal maneira que tem contribuído para que este sentimento se revele cada vez mais forte; pais que se comunicam com seus filhos dentro de casa por aplicativos de mensagens, filhos que crescem com os pais separados e/ou presenciando brigas de todos os tipos. Uma família sem afeto, carinho e carisma entre os parentes gera distanciamento, pessoas que não se comunicam, não demonstram se preocupar com os seus e afirmam sempre que podem “prefiro manter distância” vai gerando um sentimento de estranheza, de desmotivação e de que tudo e todos são chatos e inconvenientes e por isso mesmo é melhor estar a sós. Isso vai se alastrando para todas as outras esferas e por não recebermos, não sabemos dar e por não sabermos dar atenção, paciência, carinho e dedicação (sim, estar em comunidade implica ter essa capacidade de troca), acabamos por preferir f**armos sozinhos. Aqui se estabelece uma roda: sinto falta de companhia e busco – não consigo me adaptar e me afasto – sofro pela falta e sinto-me só – sinto falta de companhia e busco.
Sobre as mudanças. Todo dia ao me olhar no espelho vejo um Eu diferente do que Eu de ontem. Todo dia, uma ruga, um cabelo, uma plasticidade diferente na pele, uma força, uma motivação diferente, mesmo que ainda não perceptíveis, mas estão lá, eu sei, todo o sando dia! E se eu não acompanhar essas mudanças, irei sucumbir em um sentimento de perda tão profundo e nunca mais sair do poço solidão. Mas não vou me alongar aqui e já deixo essa introdução para também quando for falar do tempo. Quero falar da solidão atrelada as mudanças do mundo em si, das modas, tendências, das tecnologias. Falar das mudanças de paradigmas sociais, das leis, das relações sociais e de tudo que eu – nós – não podemos controlar, muito a contra gosto ou nos adaptamos, ou seremos – também a contra vontade – empurrados e, aqui que o sentimento de solidão se instala: imagina só: "Você está acompanhando uma enorme multidão, todos se expressando como quer e embora todos tenham um objetivo diferente, todos seguem um único caminho. Menos você! Você sabe o que quer, e sabe que aquele caminho não te levará para onde quer ir e, mesmo fazendo um esforço absurdo para sair dessa multidão, é impossível. E você se vê obrigado a seguir a procissão, mesmo sabendo que aquele caminho não é o que trançou para si."
Essa mudança obrigatória que nos é imposta pelas “forças” que controlam as massas acabam nos jogando nesse limbo que é a solidão. A menos é claro que consigamos nos adaptar e tomar gosto, coisa que uma ora ou outra acabará por acontecer, mas, não se enganem, o sentimento de solidão neste caso será constante.
Sobre o tempo. Embora esteja “por aí”, é a todo instante negligenciado, principalmente pelos mais jovens que começam a f**ar desesperados quando percebem que “o tempo não para”. Pessoas que se sentem sozinhas o tempo todo geralmente se angustiam com a finitude da vida, pensar o tempo é pensar a vida e consequentemente é pensar a morte. Diante do fim que é certo, vale a pena tentar ser ou ter alguma coisa? Diante da possibilidade de tudo acabar, qual o sentido da vida ou qual o sentido de se viver? Essas e outras perguntas f**am rodando na cabeça das pessoas como moscas em volta da lâmpada e, vão contribuindo para um esvaziamento das suas motivações e tudo que pode lhes ajudar a ter uma vida satisfatória.
A pandemia contribui muito para que este sentimento aumentasse nas pessoas, ou para que elas notassem mais nitidamente sua presença, por que nos coloca diante da possibilidade do fim, já parou para pensar nisso?
Você sabia que 90% dos astronautas que foram para o espaço não querem voltar lá e muitos desenvolveram depressão? Sabiam que muitos migraram suas funções laborais para outras áreas? Sabe o que os assustou? O nada, o silêncio, a constatação do fato de que realmente somos insignif**antes diante do universo. Com isso, quero lhes informar que sentir-se sozinho é mais comum que parece ser, o que não signif**a que seja saudável. Mas quando a isso, deixo para outro texto.
Espero que essa reflexão o tenha feito refletir mais um lado de nossa faceta.
Até mais!
Daniel Miranda.