08/06/2025
Psicologia contemporânea e a teoria do conhecimento de Kant.
Vamos começar a reflexão a partir do livro a Crítica da Razão Pura e a Metafísica dos Costumes.
Apesar de Kant não ter sido psicólogo no sentido moderno, seu pensamento continua influente em debates filosóficos dentro da psicologia — especialmente em áreas como a epistemologia, a psicologia moral e a psicologia cognitiva.
Epistemologia e Psicologia Cognitiva
Kant e o conhecimento:
Kant propõe que oconhecimento é construído a partir da síntese entre intuições sensíveis e categorias do entendimento.
A mente humana, as emoções, o cérebro e o comportamento não são uma tábula rasa (como os empiristas postulavam) mas possui estruturas a priori que organizam a experiência.
O sujeito não conhece a “coisa em si” (essência) mas apenas os fenômenos, ou seja, as coisas como aparecem ao sujeito (cognição). Aqui vai dialogar num segundo momento com a Fenomenologia de Husserl, por exemplo, criticar essa ideia de cientificismo e psicologismo trazendo o conceito de intencionalidade da consciência.
Relação com a Psicologia Cognitiva Moderna:
A psicologia cognitiva comportamental, a psicanálise e a psicologia sócio histórica também vão entender a mente, o psiquismo, as emoções, o cérebro e o comportamento como ativos na construção da experiência, alinhando-se à ideia kantiana de que percepção é estruturada por categorias mentais ou instâncias psíquicas (Freud)
As teorias como os esquemas mentais de (Piaget) e os modelos internos partem de pressupostos semelhantes aos de Kant: a mente interpreta, organiza e dá sentido à realidade. Aqui existe uma diferença fundamental no behaviorismo radical de Skinner
A distinção kantiana entre estrutura da mente e conteúdo da experiência aparece em estudos modernos sobre percepção, atenção e cognição (por exemplo, a ideia de que o cérebro impõe padrões à entrada sensorial).
Limite:
Kant recusava a psicologia empírica como base para a metafísica e para a teoria do conhecimento, pois a considerava ciência do contingente, não do necessário. A psicologia moderna, ao contrário, parte da observação empírica, nomotetica e quantificadora (matrizes do pensamento psicológico) para respaldar suas posições.
Psicologia como ciência e os limites da razão
Kant afirmava que a psicologia empírica não pode ser uma ciência rigorosa como a física, pois não é matematicamente estruturável.
O sujeito pensante não pode ser objeto de estudo como um fenômeno natural qualquer, o que antecipa algumas questões da psicologia fenomenológica e existencial sobre o sentido do ser (Heidegger)
A psicologia contemporânea debate continuamente:
A objetivação do sujeito versus a compreensão de sua intencionalidade e liberdade — temas centrais na psicologia humanista, fenomenológica e existencial, que retomam preocupações kantianas.
Jean Piaget (1896–1980) — Psicologia do desenvolvimento e Epistemologia Genética
Conexão com Kant:
Piaget considerava-se um “kantiano geneticista”. Assim como Kant, ele acreditava que o conhecimento não é simplesmente empírico, mas construído pelo sujeito a partir de estruturas internas (epistemologia genética) e Vygotsky com a epistemologia do materialismo histórico e dialético.
Piaget, no entanto, introduz a ideia de desenvolvimento ao longo do tempo: as estruturas não são a priori fixas, mas se formam geneticamente, conforme a criança interage com o mundo (maturação biológica)
Exemplo: a ideia de esquemas mentais e operações lógicas concretas e formais corresponde às categorias kantianas (como causalidade, tempo, quantidade), mas desenvolvidas ao longo da infância.
Diferença:
Kant vê as estruturas da mente como imutáveis e universais; Piaget mostra que elas emergem progressivamente com a experiência e desenvolvimento biológico em fases e vygotsky da relação do sujeito com o social.
Sigmund Freud (1856–1939) — Psicanálise
Conexão com Kant: Freud não se inspira diretamente em Kant, mas há um debate implícito:
Kant via o ser racional como autônomo e guiado pela razão prática.
Freud desmonta essa autonomia com o conceito de inconsciente, afirmando que a razão é frequentemente refém de impulsos inconscientes (como o id).
Crítica indireta à ética kantiana: a moral kantiana exige controle racional das inclinações. Freud mostra que isso pode gerar neurose, repressão e conflito interno (id vs. superego vs. ego).
Paralelo interessante: Kant dizia que a moral requer domínio da razão sobre os desejos.
Freud mostrava que esse domínio não é pleno — e o conflito psíquico é inevitável.
Lev Vygotsky (1896–1934) — Psicologia histórico-cultural
Conexão com Kant: Vygotsky não segue Kant diretamente, mas dialoga com temas centrais:
A linguagem e a cultura formam as funções psicológicas superiores.
Assim como Kant defendia estruturas internas, Vygotsky mostra que tais estruturas (consciência, identidade, mediação cognitiva) são mediadas socialmente, ou seja, não são a priori no sentido clássico, mas formadas historicamente.
Diferença essencial: para Kant, o conhecimento parte de estruturas universais da razão.
Para Vygotsky, parte de interações sociais mediadas por signos (como a linguagem).