11/03/2025
O neurótico obsessivo não deseja, calcula. Antes de qualquer passo, traça mapas, projeta cenários, esgota todas as possibilidades. O desejo, para ele, é um problema lógico, uma equação a ser resolvida antes de qualquer movimento. Mas há um detalhe: essa conta nunca fecha.
O risco é o verdadeiro horror. Não porque seja perigoso, mas porque nele não há garantias. Então, o desejo vira ideia, separado do afeto que o faria pulsar. Melhor pensar sobre do que sentir, melhor adiar do que errar. E assim, vive-se ensaiando uma vida que nunca começa.
Enquanto isso, cresce a tirania do dever. A lógica é simples: se não se pode desejar, resta obedecer. E o que poderia ser vivido se transforma em culpa, dívida, obrigação. O dever vira um inferno confortável, uma desculpa nobre para nunca se haver com o próprio desejo.
No fundo, o obsessivo não teme o erro, teme a própria liberdade. Afinal, desejar é arriscar-se a perder, a falhar, a se equivocar. E para quem acredita que só há um caminho certo, qualquer desvio parece insuportável.
Mas será que não é justamente nesse desvio que a vida acontece?
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