09/09/2020
Talvez essa seja uma das dúvidas comuns de meditadores iniciantes...
Dúvidas como: Será que tenho que ter um lugar específico, para meditar? Qual o clima do ambiente, como por exemplo, o uso de cores (em luminárias), ou o uso de incensos... com ou sem música?
Primeiro, podemos ter em mente qual sua intenção em meditar e qual prática você faz. Aqui vamos falar sobre mindfulness, que é uma das tantas formas de meditação.
É interessante pensarmos na prática formal, preferencialmente sentada, em que nossa atenção f**a focada em alguma âncora (foco atencional, podendo ser na própria respiração, sons, corpo...), e assim, proporcionar a si mesmo um ambiente silencioso, com temperatura agradável e o mais confortável possível.
Este ambiente agradável propicia maior tranquilidade, proporcionando também maior domínio sobre sua própria âncora atencional, que não “competirá” com outros elementos que possam distrair.
Ambiente para prática de mindfulness:
- Pode ser qualquer cômodo de sua casa, onde você se sinta confortável;
- Não precisa ter incensos, velas aromáticas, difusor de óleos essenciais ou qualquer coisa do tipo (se você estiver querendo focar sua âncora nos sons, por exemplo, aromas ou fumaça pode ser uma distração a mais);
- Não precisa de música ambiente (se você quiser focar sua atenção na respiração, a música pode te distrair);
- Não precisa se contorcer para sentar em alguma posição especial... Se quiser, sente-se de pernas cruzadas, ou sente-se naturalmente em uma cadeira. O mais importante é uma boa postura, onde você encontra um equilíbrio entre estar relaxada (o) e ao mesmo tempo, em uma postura que reflita sua intenção em estar com atenção à prática.
E cabe aqui uma observação: Quando disse, acima “não precisa”, não quer dizer também que não possa. Apenas sinta em você o que te ajuda em sua âncora de escolha e se algum recurso que você adiciona ao ambiente favorece sua intenção na prática.
Sendo assim, é interessante cada pessoa preparar seu ambiente como desejar, como se sente mais concentrado.
Podemos dizer que, às vezes, o imaginário sobre a meditação é tão idealizado que nem sempre chega a ser real, ou possível. Como se, para meditar, estivesse que estar no alto de uma montanha, ao lado de uma cachoeira, ou de frente para o mar, em uma praia vazia.
O mundo não para, porque estamos meditando... E como podemos meditar em meio ao mundo onde temos pouco ou nenhum controle sobre ele? Talvez lidar com o mundo a nossa volta, seja uma parte interessante da prática (mesmo sendo uma parte onde julgamos como desagradável, como alguns barulhos, por exemplo).
Como meditar em casa, em seu ambiente “idealizado” e “controlado”, se o vizinho do apartamento ao lado está fazendo uma reforma? Será que, com isso, sua meditação já está comprometida? Ou com pessoas conversando em outro cômodo... Ou se está muito calor ou muito frio; ou você não tem uma almofada de meditação e nem um tapete de yoga, o ambiente não está propício para a prática?
Claro que um ambiente onde todos os itens de conforto correspondam ao desejável seja mais atrativo e até recomendado, não só para o iniciante. Entretanto, podemos também pensar que, sendo mindfulness uma prática contemplativa e que busca o estado mental de “estar intencionalmente atento ao momento presente, com curiosidade, aceitação, gentileza e sem julgamentos”, lidar com alguns pontos de desconforto, durante a prática, pode ser parte do “treino”.
Podemos, nas práticas formais, exercitarmos a observação de nossos próprios pensamentos e sentimentos, como por exemplo, identif**ar uma irritação diante de uma martelada no apartamento vizinho, durante nossa prática. Isso pode nos permitir uma experiência muito rica, onde notamos como essa irritação surge, como a notamos brotar no próprio corpo e como interagimos com essa irritação, através dos próprios pensamentos. Quais são os nossos impulsos diante do surgimento de uma irritação. Ou seja, esta prática (com as marteladas do vizinho competindo com sua âncora) pode ter sido percebida como desagradável, entretanto, proporcionou auto-observação, autoconhecimento. Isso pode ajudar a buscas de estratégias pessoais para lidar com reatividades futuras...
Em outro texto, poderemos falar sobre as práticas informais, que sugerem desapego ainda maior para o “controle” do ambiente.
Então... Encontre seu lugar e ótimas práticas!