14/07/2016
Sou mãe de um menino lindo chamado Levi hoje com seis anos de idade, ele assim como qualquer outra criança teve um desenvolvimento aparentemente normal até os dois anos, a partir deste período começamos a perceber que o nosso pequeno não estava se desenvolvendo muito bem, no início achávamos normal, pois ele parecia ser mais tímido do que outras crianças ou até mesmo poderia gostar de ficar sozinho, mas com o tempo isso foi piorando o que poderia ser uma simples brincadeira tímida com seu adorável brinquedo passou a ser o seu grande problema, tinha preferências por brinquedos ou roupas restritas o que até então em uma criança poderia ser justificável o carrinho preferido não soltava mais nem quando estava dormindo, as roupas tínhamos que tirar praticamente a força chegou a ponto de ter duas camisas iguais para revezar.
Com um tempo percebemos que não tínhamos mais espaço em sua vida se nos aproximássemos acabávamos atrapalhando sua brincadeira tão simples, mas agora muito diferente parecia que ele não sabia mais brincar e sempre me perguntava “o que realmente tinha nas rodas do carro” algo chamava muito sua atenção apesar de aparentemente ser uma simples roda ele passava várias horas sempre muito concentrado no canto da parede com o carro nas mãos fazendo o mesmo movimentos repetitivo, adorava por em ordem seus brinquedos e nem mesmo assim nos demos conta do que estava acontecendo aos poucos sua fala foi embora e substituída por sons e com isso não nos comunicávamos mas depois de tudo isso não tinha como não notar e insistir que algo não estava certo, passamos por vários pediatras que reforçavam a idéia de que estava tudo bem e tínhamos que dar um tempo a ele e que seria muito cedo para tirarmos conclusões. A verdade é que não queríamos aceitar, e até passamos a dar justificativas para tudo isso.
O tempo foi passando e nada dele melhorar pelo contrário Levi regredia cada dia mais passou a ser totalmente dependente mais do que deveria ser, ele não comia mais sozinho e sempre tinha restrição alimentar o que tornava mais difícil seu dia a dia, morávamos em uma rua tranqüila, mas tive que marcar os horários que o carro que recolhia lixo passava, pois comecei a perceber que isso o irritava muito e mesmo assim não resolvia o seu problema, pois como era muito sensível ele o escutava mesmo quando ainda estava muito distante á única solução era o colocar no quarto fechar a porta e sempre sem saber o e fazer tentava o acalmar, quando olhava para meu filho percebia que ele levava sempre as mãos ao ouvida tentando diminuir todo aquele barulho e toda uma rotina passou a ser criada, já não podia mais usar o liquidificador se ele estivesse em casa e se de repente ele chorasse muito eu já imaginava que poderia ser outro caminhão.
Junto com esses comportamentos às estereotipias surgiram e nessa época eu já pesquisava na internet e sempre vinha como resposta o autismo, ainda muito difícil de aceitar olhávamos as principais características e sempre procurávamos desculpas no critério de eliminação já que ele não apresentava todos os comportamentos, meu marido conheceu a Doutora Mirtes quando cursava a pós em psicopedagogia e chegou um dia comentando em casa sobre autismo e que as estereotipias seria a característica marcante daí levamos ao neuropediatra.
Mesmo sabendo que poderia ser autismo, nós não estávamos preparados para receber o diagnóstico, quando entrei na sala do médico eu tinha certeza que estava levando meu filho Levi de três anos com suspeitas de autismo, porém sai desta consulta com meu filho nos braços sem saber o que seria de sua vida, a partir deste dia em diante ele não era mais uma simples criança e sim uma criança autista não verbal que provavelmente nunca mais iria voltar a falar ou ser independente jamais teria uma vida normal como idealizamos para ele, quando chegamos em casa nos demos conta que não se tinha muita coisa em livros ou sites ensinando o que fazer ou como lidar com o nosso filho talvez esperávamos que existisse algo proto e que pudéssemos seguir o passo a passo não sabíamos quantos obstáculos iríamos enfrentar mas Deus nos dá a oportunidade de encontrar pessoas em nossas vidas e a inspiração e forças que precisamos para não desistir e continuar lutando por nosso filho.
Hoje nosso pequeno freqüenta a escola e da sua maneira se socializa com outras crianças, com o tempo foi novamente adquirindo suas habilidades o que não foi nada fácil, trabalhamos em casa com ele incansavelmente, mas conseguimos, passei quase três meses lhe ensinando a palavra “mãe” e assim como outras palavras, e ainda me emociono quando me lembro deste dia afinal foi a partir desta pequena palavra que percebi o quanto ele era capaz e sabia que poderíamos ir além.
Estarmos juntos lutando eu e meu marido por nosso único filho foi muito importante passamos a dar prioridade ao seu bem estar e insistimos muito em sua socialização até hoje mas sempre respeitando os seus limites, nossa família também foi fundamental nos dando um grande apoio e reconhecemos o quanto foram importantes para que Levi alcançasse todas as suas conquistas e devemos muito a todos por essa dedicação.
Reconhecer e diagnosticar o autismo precocemente é muito importante, deixar tudo isso passar ou achar que dar um tempo irá resolver não é a solução temos que reconhecer que estamos lidando com algo preocupante e não podemos negligenciar nossos filhos temos que agir o quanto antes só assim poderemos melhorar sua condição.
Ver meu filho hoje falando mesmo que seja suas poucas palavras é muito gratificante, mas sem dúvida ele me ensinou muito mais do que eu poderia imaginar, ter um filho com autista é saber valorizar a vida e reconhecer quanto tempo perdemos com coisas desnecessárias, é perceber quanto doem as palavras mesmo quando elas devem ser ditas, é persistir a cada dia sem desistir de quem amamos, é valorizar cada progresso e reconhecer o quanto foi difícil para ele conseguir é um desafio possível que podemos alcançar.
Jamile Amorim Patriota Martins de Carvalho