03/08/2023
A moldura do encontro
Como sabem, estou atendendo num espaço novo. No meio de todo vendaval da mudança, deixamos esses quadrinhos apoiados no aparador da recepção. Única e exclusivamente porque ainda não havia sobrado tempo para pendurá-los.
Durante os dias em que as pessoas vinham chegando ao local pela primeira vez, alguns clientes me aguardaram chegar na frente da porta de vidro. Ao chegar, por duas vezes, ouvi a seguinte frase "fiquei te esperando, mas sabia que estava no lugar certo porque vi os quadros". Essa semana ouvi novamente: "que bom que pendurou [na parede], esses quadros me fazem continuar me sentindo no mesmo lugar".
Comprei esses quadros quando aluguei meu primeiro consultório, em 2018. Eu tinha um sofá usado, uma poltrona, um tapete velho, um ventilador e uma mesinha feita com palettes. Comprei uma cortina e, por fim, pensei "e a parede pelada? Preciso pendurar alguma coisinha pra decorar". Garimpei esses dois quadrinhos numa loja, já sem dinheiro pra muitas estripulias. E assim eles foram parar como primeira decoração do meu primeiro consultório. Pendurados, fizeram seu papel de preencher e dar cor pra parede branca (que depois foi pintada de bege) do antigo consultório; recentemente, compuseram o aparador ainda modesto e sem decoração e, agora, fazem parte da parede verde da recepção.
Não custaram muito na época, se bem me lembro. Agora eles passam a ter um valor inestimável para mim, pois eles são mais que um apelo decorativo, eles ganharam outro sentido para os meus clientes antigos, que acompanharam as mudanças vividas por mim, pelo espaço físico dos encontros e, principalmente, as mudanças internas que eles vivem ao entrar e sair daqui.
Fico aqui olhando pra eles, pensando em qual será nosso próximo passo, por onde mais caminharemos juntos, quem são as pessoas que se lembrarão deles como bússola ou ponto de encontro. Ali, pendurados, eles continuam fazendo parte da minha história, do meu crescimento profissional e, principalmente, do local seguro dos meus clientes.
Fico feliz deles serem mais do que eram. O sentir dá o sentido. Dois quadrinhos que tinham a missão de preencher uma parede vazia. Quem diria, hein?