
23/06/2025
Hoje era dia de cirurgia.
(E eu tenho um medo antigo de dentista. Desses que moram no corpo antes de chegar o momento.)
A segunda veio cinza, preguiçosa, com chuva fina nas janelas.
O corpo tenso, mas fui.
Fiz.
Deu tudo certo.
Ou quase.
O dentista atrasou uma hora e meia.
(E eu, que já cheguei em estado de alerta, fiquei ali tentando não fugir de mim.)
Mas ele foi um querido. Me olhou com calma, me acolheu.
Um dos dentes começou a doer mesmo com anestesia.
E ele disse, com uma suavidade quase irritante: “Se recupera. Deixamos esse pra próxima.”
E naquele gesto, alguma coisa dentro de mim também foi deixada pra depois.
A pressa. A exigência. A ideia de que tem que dar conta de tudo.
Voltei pra casa com a boca dormente e uma sensação de trégua.
Era como se o corpo dissesse: agora você pode só estar.
Desde as 5h da manhã eu já vinha tentando ressignificar esse dia.
Tirei as fotos desse dump como quem documenta um rito. (E foi um rito mesmo, tô sempre correndo, quase nunca tiro fotos)
Coloquei a música que me acompanha há dias:
A vida em seus métodos diz calma.
(E talvez hoje eu tenha entendido o que ela queria me dizer.)
Nem sempre o tempo da vida é o mesmo da nossa agenda.
Às vezes a cura não está no depois, mas no intervalo.
No instante em que a gente aceita parar.
Minha mãe deixou sopa pronta.
A chuva continuou lá fora.
E pela primeira vez, depois de muito tempo, eu não senti que precisava fazer mais nada.
Hoje, eu só fiquei.
Com o céu nublado.
A boca anestesiada.
E a alma, curiosamente, em paz.
(Mas amanhã, a rotina volta, e ter pra onde voltar é tão importante quanto a pausa que a gente dá)