12/06/2025
É dia dos namorados, o amor está no ar?
O que é o amor para Lacan?
1. O amor como “dar o que não se tem”
Essa é uma das frases mais conhecidas de Lacan sobre o amor:
“Amar é dar o que não se tem a alguém que não o é.”
Essa frase pode parecer enigmática, mas se baseia na ideia de que o sujeito é constituído pela falta. Não somos seres completos — somos atravessados pelo desejo, pela linguagem, e pela falta de um objeto que nos completaria.
No amor, oferecemos ao outro algo que simbolicamente nos falta — a fantasia de completude — e, ainda assim, o oferecemos a alguém que também não é completo.
2. O amor como reconhecimento
Para Lacan, o amor tem uma dimensão de reconhecimento. O sujeito busca ser reconhecido como desejável pelo outro. Nesse sentido, o amor articula-se com o narcisismo: amar é, em parte, amar no outro a imagem ideal de si mesmo (ideal do eu), como já havia sido abordado por Freud.
3. O amor como suplência do gozo
No seminário “Encore” (1972-73), Lacan afirma que:
“O amor é o que vem em suplência da relação sexual.”
Ou seja, como “a relação sexual não existe” (não há complementaridade plena entre os sexos no inconsciente, segundo Lacan), o amor entra como uma tentativa simbólica de dar conta dessa ausência, dessa impossibilidade de união total com o outro.
4. O amor como discurso
No seu ensino tardio, Lacan trata o amor também como um modo de laço social, inscrito no campo do discurso. Ele pode funcionar como uma forma de entrar em relação com o outro, mesmo que essa relação esteja sempre marcada por mal-entendidos e deslocamentos.
Em resumo:
O amor existe para Lacan, não como plenitude, e sim como um efeito simbólico e uma tentativa de lidar com a falta, o desejo e a impossibilidade da relação sexual (complementariedade) plena. É um gesto que fala mais do sujeito e de seu modo de desejar do que de uma conexão harmoniosa com o outro.
Amar é assumir riscos e responsabilizar-se por isso. Amar é para corajosos.
É reconhecer a sua falta e estruturar o seu desejo.
Coragem!