22/01/2022
“ah mas eu vou lá SÓ ficar falando? psicanalista não vai me falar nada?”
essas questões são mais simples & mais complexas do que parecem. mais simples, pois “ficar falando” é muita coisa. é de onde partimos para nos dizer. e, nos dizermos enquanto seres falantes, revela onde somos partidos.
e daí começa a complexidade: parece (aos mais desavisados) que somos sujeitos do que falamos, autores, donos mesmo. o problema é que somos, em alguma medida, assujeitados pela linguagem, pelo campo do Outro.
e é neste lugar, desde o campo do Outro, que o psicanalista vai falar. visto que esse assujeitamento em que o ser falante está, na linguagem, produz uma espécie de buraco: pontos onde estão os impossíveis de escutar-se.
por isso um processo de análise nunca é “individual”: precisa de dois! sendo que a ética do psicanalista orienta para que este possa estar posicionado em um lugar desde onde vai escutar e devolver ao analisante aquilo mesmo que se produz como os impossíveis na fala e discurso do analisante.
e, nesse processo, uma transformação pode acontecer: na medida em que - sessão a sessão - o analisante localiza seu desconhecido, ou - dito de outra forma - em que ele encontra o analista em um lugar incomum, o analisante pode desencontrar-se.
por isso que, para quem já experimentou uma epifania em análise, isso causa um certo desnorteamento. um “é isso!” como novas notícias junto com um “mas sempre esteve aí!” com gosto de familiar.
aí está a dificuldade e a complexidade de um processo psicanalítico: a condição de sustentar aquilo que sai da sua boca, como fala, enquanto o que é, em você, mais familiar e mais estrangeiro ao mesmo tempo!
assim, engana-se que quem pensa que o meme se refere somente ao aprendizado de uma língua estrangeira. já que a psicanálise nos mostra que temos um estranho no ninho de nossa língua materna.
viviana s venosa