10/07/2023
Quando ouvir falar em “padrão ouro de psicoterapia”, lembre-se de que isto não passa de uma estratégia de marketing e que na psicoterapia, assim como na vida, não há garantias. As complexidades da vida e da alma humana não podem ser abarcadas por uma só teoria e, embora as teorias sejam importantes meios auxiliares, tornam-se perigosas quando ostentadas como artigos de fé. É importante que tenhamos clareza da teoria que norteia nossa prática, porém, mais importante que a teoria é a personalidade do psicoterapeuta, que quando restrita a um dogma teórico, tende a restringir também as possibilidades de transformação nas vidas de seus pacientes.
No texto ‘Medicina e psicoterapia’, Jung fala a esse respeito:
“O grande fator de cura, na psicoterapia é a personalidade do médico – esta não é dada a priori; conquista-se com muito esforço, mas não é um esquema doutrinário. As teorias são inevitáveis, mas não passam de meios auxiliares. Assim, que se transformam em dogmas, isso significa que uma dúvida interior está sendo abafada. É necessário um grande número de pontos de vista teóricos para produzir, ainda que aproximadamente, uma imagem da multiplicidade da alma. Por isso é que se comete um grande erro quando se acusa a psicoterapia de não ser capaz de unificar suas próprias teorias. A unificação poderia significar apenas unilateralidade e esvaziamento. A psique não pode ser apreendida numa teoria; tampouco o mundo. As teorias não são artigos de fé; quando muito, são instrumentos a serviço do conhecimento e da terapia; ou então, não servem para coisa alguma.”
📚A prática da psicoterapia, § 198.