18/10/2025
Hoje é Dia do Médico.
E, neste ano, ele carrega um significado ainda mais profundo pra mim.
Sou médica desde 2006. E ao longo desses anos, vivi inúmeras experiências que moldaram minha forma de cuidar.
Mas recentemente, fui colocada do outro lado — não como médica, mas como filha.
Vi meu pai internado, vulnerável, em uma UTI.
Ali, senti na pele o que tantas famílias sentem: medo, fragilidade, incerteza… e a esperança de encontrar, no profissional à frente, um pouco de humanidade.
E foi nesse momento que uma frase antiga ecoou dentro de mim como nunca antes:
Primum non nocere primeiro, não causar dano.
Mas o que é isso, na prática?
É enxergar o outro.
É ouvir sem pressa.
É acolher sem julgar.
É lembrar que o que salva, muitas vezes, não está apenas na técnica mas na maneira como a gente se faz presente.
Na medicina fetal, essa presença é tudo.
Lido diariamente com gestações de alto risco, diagnósticos delicados, decisões difíceis.
Acompanho mães que recebem notícias que mudam tudo e que, naquele instante, precisam de alguém que caminhe junto.
Não só com conhecimento, mas com empatia.
Não só com dados, mas com compaixão.
Porque quem está do outro lado da mesa não é apenas uma paciente:
É uma mulher assustada, insegura, muitas vezes em silêncio, tentando entender o que vai ser do sonho que carrega no ventre.
E minha missão é ser abrigo nesse momento.
Me dói ver, cada vez mais, colegas esquecendo esse lado da medicina.
Virando as costas para o que há de mais sagrado: o ser humano.
Transformando a profissão em vitrine, e não em vocação.
Mas eu sigo.
Persisto.
E escolho, todos os dias, continuar sendo aquela que segura a mão mesmo quando não há garantias.
Porque ser médica é isso.
É viver entre o racional e o emocional.
É conter o choro pra acolher o da outra (e muitas vezes acabamos chorando junto).
É voltar pra casa com o coração cheio de histórias que não se apagam.
É carregar no peito vidas que não são nossas, mas que marcaram para sempre quem somos.
Que a gente nunca se esqueça: a medicina é ciência, mas também é alma.
E acima de tudo:
Primum non nocere.
Feliz Dia do Médico.
Com amor. Com verdade. Com humanidade.