Recordar, Repetir & Elaborar

Recordar, Repetir & Elaborar Erika Faria
Psicóloga e Psicanalista em Belo Horizonte - MG.

Preso à minha classe e a algumas roupas,vou de branco pela rua cinzenta.Melancolias, mercadorias espreitam-me.Devo segui...
13/06/2020

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Carlos Drummond de Andrade
Ph:

Queridos, quero fazer um convite! ❗❗❗❗Neste semestre estarei ministrando duas aulas super especiais junto de mais alguma...
02/02/2020

Queridos, quero fazer um convite! ❗❗❗❗
Neste semestre estarei ministrando duas aulas super especiais junto de mais algumas mulheres que, assim como eu, se arriscam a dizer alguma coisa disso que não se diz.

Denominar uma mulher de louca é uma prática patriarcal tão antiga quanto a civilização humana. Nossas manifestações, fluidos, gestos e afetos sempre causaram bastante incômodo, afinal de contas, nem tudo no corpo de uma mulher obedece à função fálica.

Pegamos, pois, essa nomeação e a transformamos em objeto de trabalho e investigação... Vamos ver onde isso vai dar?

Chama e marca azamiga que vai dar bom.

Inscriçoes: bit.ly/loucurasfemininas2020

Quem pode fazer? Quem tiver interesse :)

Abraços,

Erika.

O amor se encontra nas fissuras do impossível.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Arte: Gab Marcondes
11/12/2019

O amor se encontra nas fissuras do impossível.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Arte: Gab Marcondes

https://m.youtube.com/watch?feature=share&v=IXKEBGtg_w0Compilação rara e integral dos vídeos caseiros de Sigmund Freud, ...
02/11/2019

https://m.youtube.com/watch?feature=share&v=IXKEBGtg_w0

Compilação rara e integral dos vídeos caseiros de Sigmund Freud, narrados por ninguém menos que sua filha, a Anna Freud.

Compilação rara e integral dos vídeos caseiros de Sigmund Freud, narrados por ninguém menos que sua filha, a Anna Freud, psicanalista das mais bem-sucedidas ...

29/10/2019

Como não falar sobre a morte com as crianças?
Para onde foi a vovó é pergunta tão fácil quanto impossível de responder
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O psicanalista Mario Eduardo Costa Pereira, autor do best-seller “Pânico e Desamparo” (Escuta, 1999), começou sua fala num evento recente de psicanálise avisando que precisaria sair impreterivelmente às 12h00. Completou a informação com a frase: “tenho que encerrar no horário marcado, pois vamos todos morrer”.

Obtida a esperada reação, Pereira explicou que, se não fôssemos morrer, não teríamos porque nos preocupar com a duração dos eventos, que poderiam estender-se eternamente.

A morte, parafraseando Protágoras de Abdera, “é a medida de todas as coisas”, sem a qual, nada do que fazemos teria sentido.

Lacan dizia que só aguentamos a vida na condição de sabermos que ela acaba e Winnicott deixou a dica de tentarmos estar vivos até o momento de nossa morte.

Para a psicanálise, a morte autoimposta, como no suicídio, e a existência de “mortos-vivos” são temas cruciais para refletirmos sobre o viver.

Vale a leitura do dossiê da revista Cult de outubro, que aborda o suicídio, assunto urgentíssimo. Os mortos-vivos, por sua vez, nunca estiveram tão em alta como hoje. “Ensaios sobre Mortos-Vivos”, de Diego Penha e Rodrigo Gonsalves (Aller, 2018), nos dá a dimensão da importância de pensarmos as existências alienadas e psiquicamente empobrecidas que se multiplicam à nossa volta.

Por volta dos três anos de idade, as crianças já estão bem interessadas na questão “de-onde-viemos-e-para-onde-vamos?”. Para onde foi a vovó ou para onde foi o peixinho são perguntas tão fáceis de responder quanto impossíveis.

Se podemos indicar onde corpos inertes são jogados ou sepultados, não temos a mínima ideia sobre o destino do que os animava.

Sempre me surpreendeu a insistência de Freud em querer saber o porquê de sofrermos tanto diante da perda do objeto amado. Afinal, não é óbvio?

Imagino o fundador da psicanálise como uma criança pentelha que perguntava sobre tudo sem parar e que, diferentemente das demais, cresceu sem se emendar.

A pergunta que não quer calar, e que se escancara diante da morte, é sobre o destino a ser dado à falta que o outro nos faz. Para onde vai o amor anteriormente investido, depois que o amado desaparece? De onde virá o amor, depois de sua perda? O luto é o penoso e incontornável processo de transferir o investimento amoroso para outros objetos para que a vida possa seguir sem, no entanto, deixarmos de sentir a falta.

Lidando com a morte do próprio pai, Freud escreveu sua obra-prima “A Interpretação dos Sonhos” (Companhia das Letras, 2019), dando um destino magnífico para seu sofrimento. Em “Luto e Melancolia” (idem, 2010), foi enfático em não recomendar o tratamento do luto, pois qualquer um de nós teria as ferramentas para realizar esse processo.

Caso contrário, não teríamos como suceder nossos pais, companheiros, filhos... É sabido, no entanto, que nossa época vai na contramão de todas as condições à elaboração do luto preconizadas por Freud, dificultando aquilo que por si só costuma ser duríssimo.

Minha filha me perguntou, por ocasião da morte do tio, para onde ele tinha ido. Ela tinha três anos. Respondi que algumas pessoas acreditavam que ele tinha ido para a terra e outras que ele estava no céu, de fato, ninguém sabia, mas que o duro mesmo era a falta que eu sentia dele. Depois de calcular um pouco, ela disse que preferia acreditar no céu.

Cada um que escolha sua resposta, desde que não nos furtemos a falar sobre a certeza da morte.
Afinal, não temos a eternidade para abordar essa conversa.

Vera Iaconelli

Escrevemos um artigo entitulado "Devastação feminina: o que pode uma análise?" para a revista de psicanálise Stylus. Com...
08/10/2019

Escrevemos um artigo entitulado "Devastação feminina: o que pode uma análise?" para a revista de psicanálise Stylus.

Compartilhamos a leitura com vocês.

Críticas são bem vindas!

http://stylus.emnuvens.com.br/cs/issue/view/10

                                                                                                                                                   

18/09/2019

A tristeza dos inservíveis

Acabo de chegar de um congresso em que pude discutir com colegas psicanalistas de diversos pontos da América Latina. Pude constatar que tanto nos países que atravessaram o paraíso e o despencar no inferno liberal, como Argentina e Chile, quanto em países cujo autoritarismo e o manto ditatorial não tem nada de disfarçado, como a Venezuela e agora Brasil, cada vez mais pacientes testemunham o sentimento de derrota e de abandono ao próprio destino, descrentes do estado. A meu ver não se deve transformar rapidamente em patologia esse sofrimento crescente de derrota que escutamos. Mas o sentimento é de um real abandono do Outro, no caso o Estado, que apenas se interessa pelos que podem alimentar a cadeia produtiva e gerar recursos, ou sustentar uma farsa ideológica de soberania que oculta violações escancaradas das liberdades individuais.

"Como isso aparece no cotidiano da clínica?", foi isso que me interessou ouvir dos colegas. As falas são parecidas, todos têm que lidar com um número que só faz aumentar de analisantes que não podem pagar suas análises, se quer podem pagar os aluguéis ou seguro saúde do fim do mês. São professores, artistas, filósofos e, obviamente, psicanalistas, um enorme capital intelectual de pessoas vitoriosas em suas trajetórias, e com o sentimento de serem inservíveis. É muito difícil, mas necessário nesses casos, fazer o caminho oposto ao que se espera em uma clínica psicanalítica, que realmente visa levar o paciente à solidão de sua existência. Uma psicanálise visa encontrar a solidão do ser para retificar o modo de se conectar com o mundo, algo que poderia ser chamado de um novo modo de amar. Nada disso ocorre com esse contingente que só faz aumentar de pacientes que se sentem inservíveis, tenho sido cada vez mais instado a valorizar seus feitos, dissociá-los da condição de excluídos que eles trazem para os consultórios. Elevar suas vidas, seus feitos, sua trajetória que não garantiu a empregabilidade mas foi fundamental para a cultura, à dignidade da coisa. Também para isso a psicanálise é importante, escutar as vozes silenciadas pelo Outro.

Marcelo Veras

Reconhecem essa mocinha da foto?Esta é Dora, a famosa paciente de Freud que ocupa o texto "Fragmentos da análise de um c...
08/09/2019

Reconhecem essa mocinha da foto?
Esta é Dora, a famosa paciente de Freud que ocupa o texto "Fragmentos da análise de um caso de histeria", de 1905. Sua análise com Freud durou aproximadamente três meses e, de longe, foi o caso mais comentado, estudado e trabalhado, desde a sua publicação. Ida Bauer, seu nome verdadeiro, sofria com seu corpo e apresentava neste, os conflitos recalcados... Enxaquecas, afonia, dispnéia, tosse nervosa, rouquidão... Seus pais chegaram a encontrar uma carta em seus pertences onde se despedia destes, dizendo não ser mais possível suportar a vida. O caso Dora permitiu a Freud formular sobre àquilo que sofre o sujeito histérico, ou seja, de suas reminiscências, manifestando-se no corpo enquanto mensagem a ser decifrada. O pai de Dora, antigo paciente clínico de Freud, exercia grande influência no tratamento da filha. Ao encaminhá-la a Freud, preocupava-se com a interferência da filha em seu relacionamento com um casal de amigos, os K. Dora denunciava o Sr. K, relatando que este havia feito uma proposta amorosa a ela durante um passeio dizendo que sua esposa não significava nada para ele... Dora reage lhe dando uma bofetada. Exige, a partir de então, que o pai não tenha mais relações com este casal. A verdade que sua análise permite desvelar é que Dora sabia que o pai mantinha relações com a senhora K, e que ela se encontrava numa posição de objeto de troca, sendo oferecida ao sr. K como uma compensação... por tolerar a relação extraconjugal de seu próprio pai. Freud interpreta que Dora está apaixonada pelo sr. K, e, protegendo o caso extraconjugal do pai, liberaria o sr. K para si. Dora interrompe o tratamento por conta própria. Somente depois é que Freud percebe que na verdade, a ligação libidinal de Dora se enlaçava à senhora K, com a brancura de sua pele e seu suposto saber-fazer com o feminino. A pergunta histérica, sobre o que é uma mulher, ressoava em Dora e podemos perceber isto em uma de suas lembranças: ao visitar uma galeria em Desdren, viu-se arrebatada pela imagem da Madona Sistina. Dora tentava responder ao seu enigma do feminino exaltando A mulher... O que podemos apreender?Dora ensina que a feminilidade não se transmite.

Essa é Anna O., o primeiro caso relatado em Estudos sobre a histeria, trabalhado por Freud e Breuer, em 1895. Ela não fo...
28/08/2019

Essa é Anna O., o primeiro caso relatado em Estudos sobre a histeria, trabalhado por Freud e Breuer, em 1895. Ela não foi paciente de Freud, mas ensinou muito a este e também a todos nós ao apontar que o analista deve fechar a matraca e escutar. Bertha - seu verdadeiro nome - foi uma mulher que sofreu durante muito tempo com a brutalidade dos sintomas e fenômenos que a acometiam. Tristeza, angústia, sonambulismo, alucinações, ira, estados de ausência e disfunções da linguagem são apenas algumas das mazelas que se faziam frequentes em seu dia a dia. Como a grande maioria das pacientes em quadros histéricos àquela época, Bertha adoeceu após a morte do pai. Quando lemos o caso, escutamos a potência de uma transferência em análise, o que causou horror a Breuer, não conseguindo levá-la adiante. Esteve internada várias vezes em instituições psiquiatricas e chegou a se viciar em morfina... diversos teóricos da psiquiatria e da psicanálise discutem sobre o seu diagnóstico de fato. Anos depois de seu encontro com a Psicanálise, Bertha se tornou a primeira assistente social de sua época, tornou-se defensora dos direitos das mulheres judias escravizadas e de crianças órfãs, além de também escrever alguns livros, se estabilizando a partir de então. O que podemos apreender disto? Bertha desvela que a saída de cada sujeito frente ao seu insuportável é absurdamente singular.

Erika Faria

Olá, pessoal! Venho propor um estudo guiado para pensarmos nas tecituras do feminino em psicanálise. Passando pelo percu...
27/08/2019

Olá, pessoal! Venho propor um estudo guiado para pensarmos nas tecituras do feminino em psicanálise. Passando pelo percurso freudiano e lacaniano sobre as mulheres, iremos nos deter também sobre a histeria e o feminino, o amor, a devastação e a função social e politica do não-todo. Trabalharemos com filmes, séries, contos da literatura e textos referenciais sobre os temas na teoria psicanalítica. O grupo terá início no dia 18/09/2019 e acontecerá quinzenalmente, de 19 às 20:30 - Belo Horizonte, Minas Gerais. As vagas são limitadas. Vamos?! Para mais informações me chame no inbox ou me mande um e-mail.

Divulgando!
26/08/2019

Divulgando!

"A mulher é um sinthoma para todo homem", comenta Lacan em seu Seminário 23.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀✨⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀S...
15/08/2019

"A mulher é um sinthoma para todo homem", comenta Lacan em seu Seminário 23.
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Se no nível da equivalência entre os sexos a relação sexual não há, o que é que há, portanto, entre um homem e uma mulher? Há o sinthoma. A relação se tece nos meandros daquilo que suportamos no outro em seu ponto mais irredutível e intratável. Ao final desta lição, Lacan lança o 'conselho': "é com o sinthoma que temos de nos haver na própria relação sexual". Se uma mulher é um sinthoma para um homem, o que é um homem para uma mulher? Bom, isso já é uma conversa para depois. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Ph: Kültür Tava

11/08/2019
"A mulher é precisamente a hora da verdade", diz Lacan no Seminário 18.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀✨⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀Uma mulher se encontra na cond...
05/08/2019

"A mulher é precisamente a hora da verdade", diz Lacan no Seminário 18.
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Uma mulher se encontra na condição de apontar a equivalência e a disjunção entre o semblante e o gozo. Ali onde o homem padece por estar na interseção entre esses dois gozos, a mulher sabe, "pura e simplesmente". Se quiser saber a verdade sobre alguém, {cherchez la femme} veja quem é sua mulher.
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Ph: artista desconhecido

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