Othília Gouveia - Psicóloga e Psicanalista

26/05/2022

26/05/2022

O sonho é uma metáfora. Nessa metáfora surge algo novo que é um sentido, um significado. Este é, sem dúvida nenhuma, enigmático, mas mesmo assim não é algo que não tenhamos de considerar. É, eu diria, uma das formas mais essenciais do vivido humano, pois foi justamente essa imagem que, durante séculos, lançou seres, em algum dos meandros enlutados de sua existência, pelos caminhos mais ou menos secretos que os conduziam até o necromante.
O que o necromante fazia surgir no círculo mágico era essa coisa chamada "sombra", diante da qual não se passava outra coisa do que se passa nesse sonho. A sombra é esse ser que está ali a ser, sem que se saiba como ele existe, e diante do qual, literalmente, não se pode dizer nada. Esse ser, é claro, fala, mas pouco importa, pois, até certo ponto, o que ele diz também é o que ele não diz, e o sonho sequer nos diz. Sua fala só tem valor pelo fato de que aquele que chamou o ser amado do reino das sombras não pode, por sua vez, dizer literalmente nada sobre a verdade do seu coração.

O Seminário livro 6 - o desejo e sua interpretação - pág 69.