
11/09/2025
Bullying na escola: o jogo que acontece “sem a bola”
No futebol, todos olham para quem está com a bola. É ali que parecem estar os lances decisivos: o passe, o chute, o gol. Mas quem realmente entende o jogo sabe que a partida também se decide sem a bola. É nesse espaço invisível que se antecipa o perigo, se protege o time e se evita a derrota.
Na escola acontece o mesmo. O professor já faz muito: prepara aulas, explica conteúdos, acompanha cada aluno. Mas o bullying raramente aparece quando o professor está “com a bola”, no comando da explicação. Ele surge nos intervalos: quando o professor vira para o quadro, quando sai por dois minutos, quando o recreio acontece sem supervisão. É nesse tempo silencioso que um apelido maldoso é repetido, que uma risada machuca, que um aluno se encolhe para não ser visto.
O silêncio não é paz — é medo
Quem sofre bullying escolar aprende cedo a se esconder. É o aluno que demora para entrar na sala, inventa desculpas para não ir ao recreio ou responde “tá tudo bem” mesmo com os olhos baixos. Esse silêncio não signif**a tranquilidade. Signif**a medo. Medo de não pertencer, de não ter amigos, de acreditar que ninguém gosta dele.
Poucas dores são tão pesadas para uma criança quanto a sensação de rejeição. E o impacto vai além da convivência: o medo rouba o aprendizado. Não adianta a melhor explicação ou aula brilhante se o aluno está ocupado em se proteger. Muitos acabam faltando, se distraindo, desistindo. O bullying não rouba só o presente — rouba também o futuro.
“Eu sobrevivi, então meu filho também vai” — será mesmo?
É comum ouvir: “Eu também sofri bullying e sobrevivi”. Mas cada criança reage de forma diferente. É como uma gripe: em alguns, passa rápido; em outros, vira pneumonia. O que parece leve para uns pode deixar cicatrizes profundas em outros. Usar a resistência de alguns como justif**ativa para o sofrimento de todos é uma forma de perpetuar a dor.
O peso da vergonha e da indiferença
Muitos alunos não pedem ajuda porque já sabem a resposta: “Não liga, isso é coisa de criança, você precisa ser mais forte”. A dor aumenta quando, além de sofrer na escola, a criança não encontra acolhimento em casa.
Do outro lado, há filhos que chegam rindo, orgulhosos das “piadas” que fizeram. Aqui mora um risco grave: quando o bullying é confundido com liderança. É papel dos pais ensinar que ser líder não é humilhar — respeito nunca nasce da dor do outro.
O bullying se alimenta do silêncio
O bullying não nasce sozinho. Ele cresce no silêncio: no professor que não percebe, no colega que acha graça, no adulto que minimiza. E, enquanto aceitarmos esse roteiro, continuaremos criando adultos com cicatrizes invisíveis: insegurança, baixa autoestima, dificuldades de confiar.
O convite à mudança
Aos professores: além de ensinar, é preciso jogar sem a bola — observar detalhes, olhares, silêncios, sinais de solidão.
Aos pais: aprendam a ouvir as pausas, os silêncios e até as risadas que escondem dores, mas também o que contam com orgulho. Se a vitória deles vem às custas da dor de outro, é hora de intervir.
Educar é muito mais do que passar conteúdo. É também proteger o futuro.
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O bullying escolar acontece, muitas vezes, fora do olhar do professor. Ele rouba a autoestima, o aprendizado e o futuro de crianças e adolescentes. Professores e pais têm papel essencial: observar os sinais invisíveis, ouvir os silêncios e ensinar que liderança nunca nasce da dor do outro.