
03/03/2025
Eu Ainda Estou Aqui
Eu ainda estou aqui. Eu estou aqui. Faça sol ou faça chuva, estou aqui. A hora chega e eu estou aqui; os ponteiros caminham, tic-tac.
Olho o relógio novamente e já se passaram 5 minutos. E continuo ali, aguardando. Começo a pensar: “Será que não vem?”, olho o telefone e não há nenhuma mensagem. Folheio um livro, começo a ler, mas a leitura não flui; outra pergunta surge: “O que será que aconteceu?”.
Na tentativa de acalmar os pensamentos, insisto na leitura: “Calma, logo logo chega”. Mas os ponteiros do relógio continuam a caminhar; já se passaram 15 minutos.
As indagações persistem, não há espaço para mais nada, só para a falta. Me questiono: “Será que não compreendi suas colocações, não percebi sobre o que realmente estava me falando?”.
Minha mente volta ao passado, tentando recordar cada detalhe do último encontro, procurando por algum sinal, algum fragmento que explique a demora, ou na verdade a falta que, à essas horas, já se tornou real.
Vou repassando nossos encontros, tentando entender o que pode ter acontecido, buscando alguma resposta. E de repente, diante de tamanho vazio, percebo que eu ainda estou aqui, mesmo quando a ausência se faz presente.
E, tentando entender, percebo que não há mais falta, há só uma ausência pulsante, um espaço vazio que me toma por inteira.
Então, vou buscando, a todo custo, aplacar a ausência do outro dentro de mim. Os minutos passaram e a sessão chega ao fim; dei-me conta de que a presença do paciente não veio, mas sua ausência viva sim. E, seja na presença ou na ausência, eu ainda estou aqui.
Regiana Lamartine - CRP04/36539