02/07/2025
Infância à Venda
(Por Verônica Valente)
As dr**as, hoje, mais do que nunca,
invadem a juventude como medalhas de status,
símbolos de prestígio,
privilégios vazios,
vantagens ilusórias.
Vamos olhar para nossas crianças?
Pequenos alvos de um mercado faminto,
vistas como lucros em potencial,
sonhos transformados em cifras,
e, por nós, pais,
como projetos de sucesso,
moldados para competir,
consumir, vencer —
como se o consumo fosse o único sentido.
Mas o que resta do tempo de ócio?
Da fantasia?
Da imaginação?
Do contato com o outro?
Recursos raros,
únicos,
que nutrem a alma,
produzem coragem, alegria,
amor-próprio,
e dão à vida
o desejo de ser vivida.
Como disse Freud:
“É impossível enfrentar a realidade o tempo todo
sem nenhum mecanismo de fuga.”
Se não deixamos espaço para o lúdico,
o mercado oferece suas saídas:
dr**as —
para preencher o vazio,
acalmar a angústia,
abafar o desamparo
que habita em cada um de nós.
Hoje, nossos filhos são levados
de aula em aula,
de escola em escola,
de curso em curso.
Se falham, ritalina;
se vencem, um celular novo.
Se entediam, fast food.
E assim aprendem
que são incapazes de enfrentar
seus fantasmas sem um objeto,
sem algo que os afaste deles mesmos —
sem dr**as.
Então, quando seu filho se entediar,
se frustrar,
se irritar,
ofereça a ele o limite,
com ternura e coragem,
mostre que sentir faz parte,
e que você confia
em sua força para atravessar
sem precisar de nada
que o mate por dentro.