04/12/2021
"No meu plantão não vai morrer ninguém", começo com essa frase, pois sempre escutei e achei que era exclusiva do pessoal de Medicina ou Enfermagem, mas o fato é, pra nós da Psicologia também.
Logo no início da graduação queria ter mais experiência e conhecer mais a Psicologia, dessa forma fui ser voluntário num projeto de valorização da vida, por lá fiquei quase 4 anos. Foram noites, dias e tardes de muito trabalho, em pensar que não existe horário para uma ideação suicida e até tentativas, em pensar que há momentos em que percebemos que tudo parece estar calmo e quando menos se espera chega o tsunami , assim foram meus plantões, de sair de uma festa e ir direto para a casa de um Monitorando, de sair mais cedo da faculdade para atender casos de urgência psiquiátrica ou até mesmo ter que atender uma ligação na fila do banco.
Os plantões foram assim, as vezes por voz, outros presenciais e alguns até por mensagens, cada palavra era unicamente produzida no improviso de salvar, estar entre a linha tênue sobre a palavra que é cura e arma. Hoje comparando vejo que as sessões, as consultas e acompanhamentos não deixam de ser plantões, cada paciente com sua particularidade tentando desenvolver a melhor maneira de sobreviver num caos, a melhor maneira de olhar pros próprios demônios e saber doma-los.
A Psicologia tem seus plantões, talvez mais intensos, enquanto as outras áreas se deslumbram na maior parte por possuir diversas formas de salvar uma vida, quando falamos de saúde mental as vezes uma única palavra salva ou mata e quando parei para refletir sobre a frase, passei a dizer sempre que iniciava meu dia - Hoje no meu plantão, ninguém morre! Falo até hoje!
Trouxe parte da minha experiência para dizer que todo paciente será um desafio, que a prova na faculdade ou o concurso na residência são obstáculos mínimos, o mais desafiador vai ser olhar para o paciente e toca-lo com as palavras. Faça Psicologia e se quiser ser Psicólogo (a) saiba que você não precisa ser de aço, mas forte o suficiente para demonstrar pro seu paciente a sensibilidade acolhedora que ele tanto busca.