
18/05/2025
Crianças ou bonecos?
Vivemos tempos em que adultos acolhem bonecos como filhos, - bebês reborn, embalados, vestidos, alimentados com o ritual do afeto. À primeira vista, pode parecer estranho. Mas, mais inquietante é o oposto: quando uma criança real é transformada em um “boneco emocional”. Quando um filho deixa de ser sujeito e passa a ser objeto: manipulado, silenciado, moldado para atender aos caprichos e delírios de um adulto.
Essa perversão não se manifesta em vitrines de brinquedos, mas em lares e tribunais. São crianças aprisionadas na lógica do “meu filho”, como quem diz “meu objeto”, “minha extensão”. Crianças impedidas de amar livremente, de conviver, de ter autonomia emocional. Crianças usadas como armas. Como marionetes. Como escudos.
Essas crianças-boneco vivem entre nós. Não têm autonomia nem voz. São alimentadas com ódio, programadas para rejeitar o outro genitor, domesticadas para corresponder ao desejo patológico de um dos pais. A isso chamamos alienação parental. E ela mata — devagar e silenciosamente — a identidade, a espontaneidade e a liberdade de existir de uma criança.
Se é boneco o que desejam, que brinquem com reborns. Mas não façam de uma criança viva um simulacro. Que não a alimentem com afetos falsos. Que não a vistam com a roupagem da culpa. Que não a programem para existir sem si mesma.
Criança não é boneco. Criança sente, sofre, ama — e precisa ser livre.
Psic. Maria Júlia Z. Hering (CRP-12/04054)
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