18/03/2025
na Gita, Kriṣna ressalta que Arjuna deve lutar com atitude equânime, considerando igualmente a alegria e a tristeza, o sucesso e a derrota. seu foco deve estar em Satva e não em K**a, naquilo que é prazeroso, mas na ação adequada.
[Satva implica uma atitude de apreciação de Iśvara (do todo) e é o que faz diferença nas ações de um svadharma (aquele que age com consciência), como se agindo com propósito entendêssemos a nossa própria conexão com o cosmos.]
entendo mais deste ensinamento hoje; na montanha, a 6 km da vila, cuido de dois gatos e dois cachorros, que também cuidam de mim, e assumo funções que antes eram partilhadas.
nisso me vejo inúmeras vezes imersa na batalha de não esmorecer diante dos desafios, nem de ter preguiça, que antes me tomava com frequência.
lembro da Gita pois há uma urgência e uma necessidade que só podem ser assumidas por mim: não tem pra onde correr, é tentar ou tentar, sem saber que resultado virá.
celebro pequenas conquistas. conseguir fazer fogo mais rápido, consertar a bóia ou cano de água, dirigir o carro (minhas amigas sabem do medo que me tomava ao assumir o volante). plantar e cobrir as mudas com palha, arrancar matos e regar o que é mais necessário: tem coisas que ficarão pro mês que vem.
mantenho o ritmo de meditação, perco e desisto para depois recomeçar, lido com a enxaqueca e com o dia falido por conta dela, aprendo a relaxar quando já não consigo fazer nada e a fazer intensamente quando tenho energia. entendo que só vou capinar melhor capinando assim como só pude ser uma boa professora no processo de dar aulas, ainda que siga na labuta de mergulhar no yoga a cada dia.
na cosmovisão indígena somos irmanados com todos os seres, árvores, pedras e rios (o que de certa maneira explica a crise civilizatória atual, estamos cindidos e radicalmente desconectados de nós mesmos). algo parecido diz a Mahōpaniṣad (VI:71): “o universo inteiro é de fato uma família.”
o professor pedro kupfer costuma relembrar aquilo que o ensinamento indica mas que a aculturação do yoga segue deixando de lado: "o yoga nos invoca a uma responsabilidade socioambiental e não a olhar para o umbigo."
(segue abaixo!)