20/06/2021
CASO LÁZARO BARBOSA
NOTA À IMPRENSA
• Esclarecimento aos órgãos de imprensa sobre os fatos que estão preocupando a população no entorno de Cocalzinho/Águas Lindas (GO)
Lideranças religiosas das regiões de Cocalzinho e Águas Lindas de Goiás exigiram do poder público local providências severas contra o abuso policial nas invasões de terreiros sem mandado judicial ou qualquer dispositivo legal que lhes permitisse abordagens dentro dos terreiros de candomblé e umbanda.
Os integrantes da comitiva fizeram na noite desta sexta-feira, 18, uma rápida manifestação em que pediam o fim dos abusos e a reparação dos danos causados pela ação dos policiais. Eles denunciaram invasões da polícia aos terreiros na busca por Lázaro Barbosa, o assassino em série que, fugidio, está aterrorizando a região.
Segundo o jornal o povo, os representantes de terreiros na região em que o suspeito de chacina está escondido “repudiam tentativa de associar os crimes à religião e dizem que locais relacionados ao Candomblé estão sendo foco da polícia”
O vandalismo policial atingiu pelo menos quatro casas representantes de religião de matriz africana, entre elas, o Ilê Asè Aladé Osún, da Mãe de santo Isabel Cristina Moreira, de 57 anos, em Cocalzinho.
Um dos integrantes da Casa, pai Patric Moreira de Abreu, de 32 anos, os terreiros agora têm dois medos: o do fugitivo e o das invasões aos terreiros.
O caso mais emblemático da intolerância religiosa e do racismo estrutural que nortearam as ações policiais é o do sacerdote André Vicente de Sousa, o pai André de Iemanjá, de 85 anos. Ele conta que os policiais espancaram seu caseiro. “Eles queriam saber onde está o Lázaro”, relata o idoso. Segundo ele, os policiais ficavam perguntando “onde está o Lázaro” (o assassino fugitivo) e o funcionário respondia que não sabia.
Dois terreiros de Candomblé foram invadidos e tiveram suas portas arrombadas por agentes da Segurança Pública, segundo relato do jornal O Povo, o maior do estado de Goiás, e confirmado por integrantes do Fórum e de uma emissora de TV. “Parte dos policiais envolvidos na operação de busca pelo suspeito de matar uma família em Ceilândia (DF) defende que o criminoso seria praticante de “’bruxaria’, ’magia negra’ ou ‘satanismo’”. Lideranças dos terreiros negaram com veemência as afirmações.
A situação de intolerância religiosa nas buscas por Lázaro também é confirmada por uma importante liderança comunitária e do Candomblé da região de Águas Lindas, Tata Francisco Ngunzetala. .
Policiais do estado voltaram a vasculhar, neste sábado, os espaços territoriais tradicionais incluindo o Terreiro dirigido pelo Tata Francisco Ngunzetala. Ontem, 18, Ele foi categórico ao afirmar que “não tem nada que ligue o Lázaro a nossas casas e nossas tradições. E mesmo que ele tivesse frequentado alguma casa daqui, não faz com que as nossas casas sejam suspeitas o tempo todo. Já invadiram, quebraram porta do barracão, da casa de santo.”
A mãe de santo Isabel Cristina Moreira, de 57 anos, relatou ao jornal local que vem “recebendo constantes visitas da polícia”, diferente de seus vizinhos. Segundo a liderança, em uma dessas visitas os policiais perguntaram se Lázaro era da religião dela e se ela o conhecia. “Como se a gente fosse íntimo do tal do Lázaro”.
Ela tem repetido aos jornalistas que a procuram que “a gente não esconde bandido. A gente não trabalha para alimentar o negativo”.
Pai André de Iemanjá informou que pretende ajuizar uma ação depois que o fugitivo for preso.
Tata Ngunzetala, junto com as outras lideranças, fez uma ocorrência pela invasão à casa de Pai André. Segundo Francisco Ngunzetala, a partir da mobilização na delegacia, onde foi registrado um B.O. (Boletim de Ocorrência) “vamos fazer um manifesto público”.
Ficou constatado, segundo Ngunzetala, que as fotos que são veiculadas pela imprensa como sendo do Lázaro e da casa dele, vinculando o satanismo às práticas afro, são, na verdade, os assentamentos da casa de Pai André, sem nenhum vínculo com Lázaro Barbosa. “São fotos tiradas pela polícia quando quebraram as portas. A polícia repassou para a imprensa, que as vinculou aos crimes e às nossas casas”, disse. Ele acrescentou que já foram contadas sete casas que estão sendo insistentemente visitadas pela polícia duas três vezes ao dia. “Isso prova a má fé da polícia, o racismo religioso e a tentativa de nos incriminar”, concluiu.