28/02/2025
Essa semana, eu sonhei que estava no meu consultório atendendo, e ele era bem maior, com outros espaços que não estavam sendo utilizados. Como um clarão desses que surgem na noite escura e alumian o caminho, me surgiu com muita nitidez um pensamento:
“Nossa, isso aqui poderia virar um espaço cultural.”
De repente, comecei a ter várias ideias de como utilizar os espaços. Na próxima cena, as paredes tinham sido quebradas. O que era a sala principal de atendimento agora tinha um fogão singelo e uma mesa comprida com vários lugares ao redor, com cuscuz e café em cima. Surgiram pessoas do audiovisual gravando um videoclipe de música circense, inclusive uma paciente estava tocando na banda. O lugar não era tão bonito quanto o meu consultório hoje, mas estava muito vivo, cheio de possibilidades e de encontros ao redor da mesa com café e cuscuz.
Esse sonho não poderia ser mais simbólico do momento de vida que estou vivendo. Tenho pensado e repensado a trajetória da psicologia e da arte. É muito recorrente bater um ímpeto de vontade de pular o corguinho e ir de cabeça pro mundo da arte, “fugir com o circo”, porque a verdade é que, apesar da psicologia ser incrível, eu me sinto despotencializada quando me vejo só nesse papel. A vida vai perdendo o sabor e o sentido. Nesse ponto da caminhada, já entendi que preciso da minha palhaça para viver, das cores da lona do circo que abraçam minha existência, da loucura da arte. Meu espírito grita por esse caminho, impossível não ouvir.
Esse sonho veio num momento bonito em que venho entendendo como tecer caminhos de costura entre esses universos que me permeiam. No dia seguinte ao sonho, tive uma reunião com uma amiga palhaça no consultório. Na outra semana, tive outra reunião com ela e com outra amiga palhaça. Quando me dei conta, o consultório tinha virado palco de ensaio de número, espaço de treino de malabares, e o tapete que é usado nos atendimentos para criar realidades suplementares virou chão para espalhar sonhos e desenhar planejamentos de caminhos.
Talvez o sonho esteja virando realidade e eu não precise mais “fugir com o circo”, porque a lona está sendo armada no chão da minha existência.