19/05/2025
O Conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago, é uma linda metáfora sobre o autoconhecimento, mas não somente sobre isso.
Fala sobre um homem que deseja se lançar numa aventura em busca de uma ilha desconhecida sem saber navegar. Essa ideia seduz uma mulher que propõe acompanhá-lo e eles passam a compartilhar esse sonho incerto, pois se ancoram na fé de que esse lugar inexplorado existe.
O homem diz: "quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou eu quando nela estiver, Não o sabes, Se não sais de ti, não chegas a saber quem és". No entanto, essa premissa pode ser aplicada às relações. Só sabemos quem somos quando nos relacionamos, pois abandonamos nosso ideal para então conhecer nossos limites.
Não me refiro apenas à relação amorosa. Muitos temem a paternidade ou maternidade porque também nos conhecemos profundamente nesse papel. Descobrimos nossos medos e nossas dificuldades diante de um bebê, principalmente quando nos servem de espelho para aquilo que não queremos ver em nós mesmos.
A relação é uma forma de sair de si. Quando é profunda implica em mergulhar num novo universo e, a partir dele, olhar para as nossas referências. E como poderíamos fazer isso sem um outro que nos capture e proporcione esse distanciamento?
E, sim, frequentemente não sabemos navegar e precisamos seguir sem esse controle e essa segurança. O novo nos convida a esse lugar idílico e no qual podemos nos afogar. Por mais experiente que seja o marinheiro, está vulnerável ao canto da sereia.