01/06/2025
Hoje, não quero falar da medalha que ganhei. Quero falar da luta que perdi.
Foi no absoluto — aquela categoria em que colocam juntos atletas de todas as idades da mesma faixa. Onde a diferença de dez, quinze anos parece pouca no papel, mas pesa no gás, na recuperação, na explosão. Ali, eu entrei para lutar mesmo sabendo que não era o mais jovem, nem o mais inteiro fisicamente.
Entrei no tatame carregando muito mais do que o peso do kimono. Carregava a dor no tornozelo com ligamento rompido, que me acordou de madrugada, a limitação física que poderia ter sido desculpa suficiente pra desistir. Carregava o cansaço acumulado de uma rotina que não dá trégua, e a voz interna que, por dias, me dizia: “Você não precisa disso. Ninguém vai te julgar se não lutar.”
E talvez não julgassem mesmo.
Mas a verdade é que eu me julgaria.
Porque só eu sei o quanto lutei para chegar até aqui.
Só eu sei o quanto essa luta — ainda que não tenha terminado com a minha mão erguida — significava pra mim.
Meu adversário era 10 anos mais novo. Mais rápido, mais inteiro fisicamente. Mas ele não carregava o que eu carregava. Ele não sabia das batalhas que enfrentei antes mesmo do cronômetro começar.
Dor.
Medo.
Auto-sabotagem.
A tentação constante de não lutar. Ou pior: de desistir no meio.
E por isso, quando a luta terminou, mesmo sem a vitória oficial, eu me senti vitorioso.
Porque eu fiquei.
Porque eu resisti.
Porque eu não deixei o medo vencer.
E, acima de tudo, porque eu honrei cada segundo que treinei, cada dor que enfrentei e cada sonho que me fez vestir esse kimono pela primeira vez.
Essa luta foi sobre não me abandonar.
Foi sobre continuar, mesmo quando tudo dentro de mim queria parar.
Hoje, eu perdi uma luta.
Mas ganhei muito mais do que qualquer medalha poderia representar.