04/06/2025
ANTIPSICÓTICOS - FARMACOLOGIA
Os antipsicóticos, também conhecidos como neurolépticos, constituem uma classe farmacológica de medicamentos psicoativos utilizados predominantemente no tratamento de transtornos psicóticos, como a esquizofrenia, o transtorno esquizoafetivo, episódios de mania em transtorno bipolar e, em algumas situações, agitação psicomotora e sintomas de demência.
Do ponto de vista farmacêutico, os antipsicóticos incluem compostos com estruturas químicas heterogêneas, como derivados da fenotiazina, butirofenonas, benzamidas e dibenzodiazepinas. Eles se dividem em duas grandes classes:
1. Antipsicóticos típicos (de primeira geração), como a haloperidol e clorpromazina, que atuam principalmente como antagonistas dopaminérgicos D2, com alta afinidade pelo sistema dopaminérgico nigroestriatal, sendo mais associados a efeitos extrapiramidais.
2. Antipsicóticos atípicos (de segunda geração), como a risperidona, olanzapina e quetiapina, que além do bloqueio dopaminérgico também antagonizam receptores de serotonina 5-HT2A, conferindo melhor perfil de tolerabilidade e eficácia sobre sintomas negativos.
Possuem formulações que incluem apresentações orais, injetáveis de liberação imediata ou prolongada (depot), visando à adesão terapêutica e à manutenção clínica de longo prazo.
APLICAÇÕES MÉDICAS:
Os antipsicóticos são indicados principalmente para:
• Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos;
• Transtorno bipolar, principalmente para episódios maníacos;
• Transtornos do comportamento em quadros demenciais e autismo;
• Adjuvantes em transtornos de ansiedade refratária, depressão psicótica e controle de agressividade
Sua eficácia está relacionada à redução de sintomas positivos (delírios, alucinações) e, com os atípicos, melhora parcial de sintomas negativos (apatia, retraimento social).
Diferente de substâncias como benzodiazepínicos ou opioides, os antipsicóticos não são considerados dr**as com alto potencial de dependência física ou psíquica. No entanto, podem causar síndrome de abstinência após retirada abrupta, especialmente com clozapina e olanzapina, incluindo sintomas como insônia, náuseas e agitação.
A Tolerância pode ocorrer em relação a alguns efeitos colaterais (como sedação), mas não à ação antipsicótica propriamente dita. Em longo prazo, pode haver fenômenos de super-sensibilidade dopaminérgica, o que pode induzir discinesia tardia e flutuações na resposta clínica.
A overdose com antipsicóticos pode levar a efeitos graves como arritmias cardíacas, hipotensão, depressão respiratória, convulsões e coma. O risco é maior com agentes como clozapina, quetiapina e olanzapina, especialmente quando combinados com álcool ou outros depressores do sistema nervoso central.
As indicações off-label mais comuns para antipsicóticos incluem:
• Insônia refratária e indução ao sono, especialmente com antipsicóticos sedativos como quetiapina e olanzapina;
• Ansiedade generalizada, quando há resistência a antidepressivos ou benzodiazepínicos;
• Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) como adjuvante ao tratamento com inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS);
• Síndrome de Tourette, em casos com tiques motores ou vocais graves;
• Agitação e agressividade em idosos com demência, apesar dos alertas de risco aumentados de mortalidade (FDA, 2022; NICE, 2020);
• Transtornos de personalidade, como o borderline, com sintomas impulsivos ou agressivos (APA, 2023).
Embora haja evidências clínicas que sustentem algumas dessas práticas, o uso off-label deve ser criterioso, pois muitos desses contextos carecem de ensaios clínicos robustos ou apresentam risco aumentado de efeitos adversos, como sedação excessiva, ganho de peso, efeitos metabólicos, e eventos cardiovasculares.
Por: Vinícius Lôbo – Farmacêutico Clínico
REFERÊNCIAS PARA O TEXTO:
- AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Practice Guideline for the Treatment of Patients With Schizophrenia. 3rd ed. Arlington: APA Publishing, 2023.
- BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Esquizofrenia. Brasília: Ministério da Saúde, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/saude/.
- FOOD AND DRUG ADMINISTRATION (FDA). Antipsychotic drugs: Information for healthcare professionals. 2022. Disponível em: https://www.fda.gov.
- KANE, J. M. et al. Comprehensive review of current antipsychotic treatment. Neuropsychopharmacology Reviews, v. 46, p. 104–116, 2021. DOI: 10.1038/s41386-020-00866-5.
- NATIONAL INSTITUTE FOR HEALTH AND CARE EXCELLENCE (NICE). Psychosis and schizophrenia in adults: prevention and management. Clinical guideline [CG178], London, 2020. Disponível em: https://www.nice.org.uk/guidance/cg178.
- WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Guidelines for the management of physical health conditions in adults with severe mental disorders. Geneva: WHO, 2019. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789241550383.