05/06/2025
— Mãe, pode cuidar das crianças neste fim de semana?
— Não, filha. Desta vez, não posso.
Laura ficou surpresa. Nunca tinha escutado um “não” vindo da mãe.
— Como assim não pode? Tem algo mais importante do que os seus netos?
Do outro lado da linha, Marina fechou os olhos. A chuva batia suavemente na janela, como se também quisesse falar.
— Tenho um compromisso… comigo mesma — respondeu com calma. — Me inscrevi numa oficina de cerâmica.
Laura soltou um riso incrédulo:
— Cerâmica? Mãe, você nunca fez esse tipo de coisa!
— Porque nunca tive tempo. Sempre fui mãe, esposa, cuidadora… Nunca sobrou espaço para mim.
— E agora? Vai virar artista? — ironizou Laura. — Você é avó, deveria ter outras prioridades!
Marina olhou para o copo vazio à sua frente. O mesmo que o marido usava antes de sair de casa com outra, mais jovem. Lavou aquele copo tantas vezes, mas nunca conseguiu tirar o sabor amargo que ficou.
— Sabe, filha… Estou cansada de ser sempre a última da lista. De só ser lembrada quando precisam de mim. Hoje, decidi fazer algo que me dá prazer. Sem culpa.
— Não acredito que está dizendo isso! A senhora sempre esteve aqui pra mim!
— Sim, sempre estive. Quando você ficou doente, quando seu marido te deixou, quando chorou pelo primeiro emprego… Sempre. Mas você já se perguntou, alguma vez, se eu precisava de alguma coisa?
Do outro lado, o silêncio pesou, preenchendo tudo.
— Mãe… Eu não quis…
— Eu sei, minha filha. E não estou magoada. Apenas aprendi, mesmo que tarde, que eu também mereço me escolher.
— Então… não posso mais contar com você?
— Claro que pode. Mas não sempre. Porque, se eu não cuidar de mim, quem vai?
Laura ficou sem resposta. E Marina, pela primeira vez em muito tempo, serviu outra xícara de café. Não para esperar, não para suportar. Mas simplesmente para ela mesma.
Reflexão:
O cuidado silencioso também se cansa quando não é reconhecido. E, às vezes, dizer “não” não é se afastar… é um jeito de se reencontrar.