Foi no dia dois do mês de setembro de 1969, à rua Pelágio Lôbo nº 63, quando Diana, Maria Angélica, Maria Helena e Maria Virgínia, à época alunas da 1ª. Turma do curso de Psicologia da Universidade Católica de Campinas (UCC), inauguraram o Centro de Psicologia sob supervisão da Psicóloga Thérèse Amelie Tellegen (1927 – 1988). Contar a trajetória deste grupo não é uma tarefa simples. São muitas memórias a serem resgatadas e que reafirmam como é possível construir uma história tão importante e complexa através de amizades duradouras e muito profissionalismo. Por isso, convido-lhe a conhecer, ou relembrar,
esse percurso do qual você faz parte!
Primeiramente, é importante que você saiba um pouco sobre Thérèse. Ela nasceu
na Holanda, onde teve contato com o Movimento Graal, movimento religioso de mulheres. Chegou no Brasil no ano de 1956 para coordenar o Centro de Estudos do Graal em São Paulo. Aqui, interessou-se pela Psicologia, cursou especialização e estagiou na Clínica Sedes Sapientiae. Entre os anos de 1968 e 1970, fez formação em Psicodrama, com Bermudez, começando sua carreira como psicóloga clínica na Guestalt Terapia. Com essa vivência, experiência e formação, trabalhou entre 1968 e 1969 como professora de Psicologia Clínica na UCC, assumindo, também, coordenação da Clínica de Psicologia da instituição.
Durante o primeiro ano de Thèrése na UCC, em 1968, Diana, Maria Angélica, Maria Helena e Maria Virgínia, alunas do 4º ano de Psicologia, tiveram contato na faculdade com a Psicóloga Anna Luiza de Camargo Garcia (CRP 119), que ministrava aulas sobre Psicomotricidade, mostrando a elas um mundo novo para o atendimento de crianças. Essa novidade despertou
a curiosidade em Diana e Virgínia que, a convite de Anna Luíza, partiam semanalmente
para São Paulo para aprender avaliação psicomotora e psicomotricidade. Essa experiência
e o convite da Professora Anna Luíza em 1969 conduziram as duas alunas, agora no 5º ano,
a assumirem a monitoria da disciplina Psicomotricidade e a desenvolverem junto à professora a avaliação de crianças, utilizando o Exame Motor de Soubiran e Mazo.
O treinamento e a supervisão ocorreram na Clínica Enfance localizada à Rua Batatais,
em São Paulo.
Paralelamente a isso, não posso deixar de considerar o contexto político que ocorria no ano de 1969, em plena época de ditadura militar. O país vivia uma forte instabilidade política
e restrições de liberdade devido ao AI5. No ambiente universitário não era diferente – instalou-se na UCC um movimento de professores contra o decreto federal e contra medidas da reitoria com os quais eles não concordavam. Durante o primeiro semestre daquele ano, esses conflitos cada vez mais se tornaram acirrados. Especificamente no curso de Psicologia, instalou-se uma comissão paritária para planejar o projeto pedagógico do curso, contudo
este não foi reconhecido pela Universidade.
O acirramento das posições chegou ao seu auge no início de agosto quando 40 professores
da universidade pediram sua demissão, nesses estavam incluídos quase todos do Curso
de Psicologia, principalmente os supervisores de estágio. Com esse cenário, os alunos formandos do ano de 1969 ficaram sem professores, inclusive sem Thèrése e Anna Luiza. Essa situação uniu as colegas Diana Coelho Tosello, Maria Virgínia de Andrade Souza Coelho, Maria Angélica Bicudo Hossri e Maria Helena de Almeida Barbosa, que, patrocinadas pelos pais, montaram o Centro de Psicologia.
Esta foi uma forma encontrada para poderem ter sua formação garantida, já que
a universidade já não ofertava mais o que esperavam. Para auxiliá-las, convidaram
a professora Thérèse para trabalhar junto a elas e a supervisioná-las, por mais 2 anos, assegurando a formação em clínica.
O primeiro atendimento da clínica ocorreu em 02/09/1969 e o cliente foi um menino
com 10 anos que havia procurado a Clínica de Psicologia da UCC, fechada devido a todo desdobramento político supracitado. O atendimento de crianças compreendia avaliação psicomotora, terapia psicomotora, orientação de pais e orientação às escolas. As sócias convidaram para atender crianças com distúrbios da comunicação a amiga Maria Izabel Afonso Ferreira, recém-formada na USP em fonoaudiologia, e, já neste momento, caracterizando o trabalho interdisciplinar que até hoje é mantido.
Outra característica ainda presente no grupo e iniciado desde o seu primórdio,
foi o oferecimento de cursos para alunos e recém-formados em Psicologia. Já em 1970 iniciaram a ofertar um curso sobre Psicomotricidade, no qual Isite e Sílvia, à época
no 4º ano de Psicologia na UCC, fizeram parte.
Em 1971, a convite do professor Saulo Monte Serrat, Diana e Virgínia foram contratadas pela UCC como professoras da disciplina de Psicomotricidade e supervisoras de estágio, nessa área. Nesta disciplina, elas tiveram a oportunidade de ensinar e conviver com muitas pessoas, aproximando o ambiente acadêmico da prática realizada no Centro de Psicologia. Ainda neste ano, Isite e Sílvia atuaram como estagiárias, sendo convidadas a integrar
a equipe no final do ano de sua formatura.
No ano seguinte, em 1972, além de Psicomotricidade, Diana e Virgínia assumiram
a disciplina Terapia Comportamental e supervisão de Estágio em Clínica. À época,
o professor Saulo Monte Serrat convidou para o começo da APAE de Campinas diversos amigos, colaboradores e incentivadores. Isto colocou o grupo de psicólogas próximo
à diversos profissionais da saúde da época, como o neuropediatra Dr. Paulo Bearzoti,
que se transformou em um parceiro para a avaliação neuropsicomotora. Estas aproximações também culminaram no estreitamento das relações com o professor Luiz Otávio de Seixas Queiroz, que se tornou supervisor de atendimento clínico em Terapia Comportamental para as psicólogas do Centro de Psicologia. Com esses amigos que se tornaram colegas, o Centro de Psicologia percorreu sua primeira década de trabalho, com muita aprendizagem
e mudanças.
Por falar em mudanças, a Rua Pelágio Lôbo, 63, logo se tornou passado para o grupo.
Após dois anos de existência, mudaram-se para a Rua Eduardo Lane, 155, onde ficaram instaladas até o ano de 1978, quando passaram a integrar a sede própria, em funcionamento até os dias atuais, à Rua Dom Pedro I, 246, e agora chamado de Centro de Psicologia
e Fonoaudiologia.
A sociedade entre as quatro colegas se manteve até a mudança para a sede própria.
Maria Angélica se mudou para Barequeçaba, onde reside até hoje. Maria Helena deixou
de atuar na Psicologia e foi trabalhar junto ao marido, na Rádio Cidade Campinas. Diana
e Virgínia, então, continuaram sua atuação na clínica, sempre atentas às novas demandas
que surgiam. Inserindo ao grupo novos colegas e parceiros para auxiliarem-nas nessa jornada. À esta altura, também já faziam parte do grupo os psicólogos Alda, Amalia, Elza, Cilô, Hipólito, Maria Lúcia, Maria Izabel, Mai, Maria Claudina e as fonoaudiólogas Marisa, Lígia e Dulce.
Pouco tempo depois, nos anos 80, vê-se um grupo já consolidado, mas que ainda tem seus movimentos e seu desenvolvimento. Chegaram para colaborar e integrar a equipe o César, psicólogo, a convite da Amália. A Valéria, fonoaudióloga, chegou a convite da Marisa para estagiar, e acabou sendo convidada a ficar logo que se formou, no final de 1983. Também estiveram na clínica a partir desta década a Marilda Lipp, a Maria Nurymar, o José Luiz, todos psicólogos, a Maria Helena Mourão, fonoaudióloga, e a primeira psicopedagoga
do grupo, Laura Monte Serrat.
Os anos 90 também tiveram importantes ganhos para a clínica. Aline Wolf, fonoaudióloga, assim como a psicóloga Valéria Luders. Daniela Daleffe, psicóloga, também começou suas atividades no Centro de Psicologia e Fonoaudiologia, onde até hoje, como Diana
e Virgínia, auxilia no crescimento profissional dos colegas promovendo grupos de estudos, emprestando livros e auxiliando no desenvolvimento teórico-prático.
Podemos pensar que essa característica de compartilhamento do conhecimento, muito valorizado nesse grupo e compartilhado por todos os profissionais, seja inerente às atitudes
e aos modelos de Diana e Virgínia. Elas sempre buscaram partilhar seus conhecimentos, seus livros e seus materiais para todos os colegas, inclusive seus alunos da graduação. Quantas profissionais se beneficiaram com essa atitude? Seria possível contar?
Início de um novo século e de um novo milênio. Mudanças também ocorreram nos anos 2000, mas sempre mantendo a harmonia, muito trabalho e uma convivência prazerosa.
A Cássia, a convite do César, começou a atuar como psicopedagoga na clínica. Juntaram-se ao grupo, também, a Thaís, a Queila, a Anita, a Mariana, a Márcia e a Rosana Dias, todas psicólogas e aconvite da Diana, que com seu jeito assertivo e afetuoso, sempre aposta
no potencial de cada profissional e oferece uma importante chance de aprendizado
e desenvolvimento. Entrou também para o grupo a Helena Miranda, fonoaudióloga. Contudo, este é um debate sempre levantado por Dulce. Helena começou a frequentar a clínica muitos anos antes, quando Dulce ainda a carregava dentro de si.
A próxima década, na qual estamos, também vem cheia de novidades e com novas pessoas para contribuírem com o grupo. Em um momento de reflexão sobre a clínica, em 2015,
Diana disse:
“A razão sugere que devemos cuidar do futuro para que essa criação se perpetue e principalmente se mantenha o ideário do grupo.”
Difícil de rebater essa afirmação, certo? E também não se pode duvidar que essa reflexão seja bastante atual, porém, devemos considerar que ela não é nova. Quem consegue unir tantas pessoas e manter um ambiente de trabalho de alto nível e de ótimo convívio durante 50 anos, com certeza possui esse olhar desde o começo das atividades. Com esse cuidado, Diana
e Virgínia conseguiram programar o desenvolvimento da clínica de uma forma bastante funcional e articulada com seus valores.
Ainda na década de 2010, o Centro de Psicologia e Fonoaudiologia recebeu para integrar
sua equipe os psiquiatras Rodrigo e Fernanda. Foi o início também para a Marina, a Aila,
o Rafael, a Audrey, a Maria Fernanda, a Mayara, o Mateus, a Amanda e a Milene, todos psicólogos. E você imagina qual é o fator comum a todos? A busca pelo aprimoramento como profissionais e a busca pelo conhecimento, sempre ofertado pela clínica desde 1970. Uma clínica formada por pessoas que se preocupam em aprimorar as habilidades dos terapeutas que ali estão, mas, acima de tudo, de ensinar a olhar para o outro com afeto e compreensão.
Toda essa grandiosa e numerosa equipe teve, e tem, o apoio de outros profissionais que auxiliam no funcionamento da clínica. Todos sempre muito bem-dispostos a lidar muito profissionalmente com toda a diversidade de clientes e tarefas do dia-a-dia da clínica.
Já estiveram nesta equipe a Ana Maria, a Maria Angélica e Maria Cristina Grecco, a Maria Lúcia Moraes, a Célia, a Damaris, o Charles, a D. Alice por mais de 30 anos, a Cristiane
e a Elisângela. Hoje em dia, a Rosana Vaccaro, a Rosana Martins (conhecida como Flávia – sim, a Flávia se chama, na verdade, Rosana), a Nilva, a Mara e o Antônio completam esse grupo que faz parte da espinha dorsal do Centro de Psicologia e Fonoaudiologia.