23/02/2022
Lacan já chegou a classificar a ignorância maior que o amor ou o ódio: a paixão de não-saber ( ne rien vouloir savoir).
O analisando não quer saber nada sobre seus mecanismos neuróticos, de onde e porque vêm os seus sintomas. É doloroso falar sobre, é trabalhoso entender sobre, e geralmente as pessoas entram em terapia em momentos de crise, em ocasiões em que seu “modus operandi” habitual desmorona. Para Freud, os sintomas proporcionam satisfações substitutas, que nem sempre funcionam eternamente. Porém, ao chegar em análise é muito recorrente se falar sobre o mais fácil, sobre aquela pessoa que incomoda, sobre os defeitos do parceiro, sobre a família que parece não apoiar e faz tudo para atrapalhar seu processo, sobre seus próprios sintomas, ou para culpar os outros sobre suas insatisfações...Sem que isso acesse o inconsciente ( Deus me livre o neurótico acessar seu inconsciente, né?).
A resistência do analisando é algo usual e deve ser trabalhada, ela é tida como um dado desde o princípio.
Lacan chega a dizer que única resistência propriamente dita em análise é a do analista, pois ele é a única figura capaz de (por meio da transferência) permitir ao analisando superar esse “desejo de não saber”.
É uma árdua tarefa do analista não oferecer um kit de primeiros socorros para consertar a sua perda de satisfação. As vezes, para sairmos da posição satisfatória primitiva e sofrida, é necessário sairmos das sessões meramente frustrados e cansados, aí começa o primeiro passo.