05/08/2023
Espetáculo O que o meu corpo nu te conta
Dispostos em um grande tabuleiro, 15 artistas se revezam a cada sessão e revelam histórias autobiográficas ficcionais que gravitam em temas como assédio sexual, machismo, homofobia, etarismo, gordofobia, racismo, pedofilia, infertilidade e compulsão.
O processo de investigação e construção das cenas, a partir do relato pessoal, denota cicatrizes físicas e metafóricas. “A metáfora primária do desnudar-se pulou diante de mim. Aqui cabem, sim, os corpos nus e tudo o que envolve a vulnerabilidade dos artistas e também do público, que faz parte do espetáculo”, descreve o diretor Marcelo Várzea.
Eu assisti ao espetáculo ontem, e foi uma experiência ímpar.
Os personagens se despem física e psiquicamente, o nu psíquico é tão impactante que o corpo nu se torna natural aos olhos do espectador.
Dentre todas as histórias narradas, vou colocar o holofote sobre uma. A de uma mulher que questiona o formato do seu corpo e o quanto foi agredida psiquicamente por ser uma bailarina e não corresponder ao peso e corpo das bailarinas, discorre sobre a relação com a comida e com a violência familiar quanto ao seu corpo “ come mais, jamanta”. Ela tece a reflexão crítica contra a gordofobia, mas encerra comprimindo seu próprio corpo, sua barriga dizendo o quanto ainda gostaria de ser magra, como alguns outros atores em cena. Minha narrativa não chega nem perto de descrever a intensidade da performance, mas é pra dar um gostinho e relembrar o que digo sobre a desconstrução dos padrões não passar puramente pelo campo racional. Ouço mulheres que dizem com frequência, “eu sei que deveria me aceitar, mas não consigo” O processo de entender-se com sua própria assimetria, psíquica e física é uma jornada longa, mas possível.
No espetáculo, somos atravessados pelas histórias que expõem grandes feridas sociais, refletidas nas experiências pessoais. Que a arte nos ajude a repensar nossa sociedade que anda tão adoecida…
Se desejar ou precisar, procure psicoterapia!