07/11/2023
Por trás de cada palavra há a imagem e é através dela que compreendemos o mundo, isso Jung já enfatizava: “da imagem que o ser humano pensante cria do mundo, ele modifica também a si próprio.”
Embora hoje ainda se questione um inconsciente coletivo que reserva na psique todo o sedimento de nossa história evolutiva, apesar de suas reminiscências empregadas e cada vez mais pronunciadas nos mais diversos enlaces sociais, artístico, político, comunicacional - e embora tenhamos a afirmação que nosso corpo é resultado desta mesma evolução. Observamos o advento da inteligência artificial que agora traz à tona a questão: um compilado algorítmico de dados que se traduz em imagens. Mesmo imagens oníricas podem ser representadas pela IA com poucos termos descritivos e pela visão, nosso sentido mais desenvolvido, o imaginário alcança nova dimensão do concreto, algo que temos refletido em supervisão clínica.
O inconsciente está em tudo, isso já sabemos, mas em nosso materialismo estrutural é como se navegasse por novas ondas e assim, real e imaginário se fundem em novas formas, no enlace do velho e do novo, talvez em novas ampliações ao sincronístico e algo muito maior que uma compreensão unilateralmente racionalista pode apreender.
“Todas essas categorias (mitos, símbolos, imaginário) que o racionalismo moderno tinha minorado, marginalizado, até mesmo negado, eis que elas voltam com força e constituem o que eu chamei de “ética da estética”. Ou seja, o elo, o cimento social, a partir das paixões e das emoções repartidas. Repartição, que, como uma onda profunda, como um tsunami, derruba, em sua passagem, as certezas, os modos de vida, e diversas seguranças ou muralhas que os tempos modernos tinham, progressivamente, erigido em torno de um social pobremente racional.
(…)
Retorno de um imaginário societal, o dos sonhos e mitos fundadores, o da memória enraizada, imaginária, que enfatiza os afetos em seus transbordamentos imprevisíveis e indomináveis.
(…)
Em resumo, o irreal para compreender o real. (…) Dionísio ou Eros filósofo lembrando-se na boa lembrança dos gestionários racionais, e um pouco desencarnados, da coisa pública.” (Michel Maffesoli)