
28/07/2025
Olhos de ternura
Tem dias que é só a Aurora me olhar e pronto. Como se aqueles olhos dissessem: “eu tô aqui, viu?”. E estão mesmo. Estão quando ninguém mais nota. Quando eu mesma me escondo. Ela não fala, mas me lê com ternura.
Tem uma inteligência mansa no jeito que ela me observa. Como quem entende sem precisar perguntar. Às vezes deita do lado, sem fazer alarde, só pra dizer: “descansa um pouco, humana”. E eu, que não sou boba, sigo o conselho. Deito, respiro.
Tem bicho que é gente. Ou talvez gente demais que se esqueceu de ser bicho — desse jeito puro, simples, intenso. Aurora me ensina isso todo dia: que presença é mais do que palavras e que amor bom não grita, só f**a.
Olhar pra ela é lembrar que há silêncio que abraça, e ternura que fala. Que continuar tem a ver com quem nos olha assim — sem pressa, sem julgamento, só com amor. E toda vez que Aurora me olha desse jeito, com seus olhos de mundo calmo… eu volto a acreditar.