31/07/2025
De uns tempos pra cá, virou moda: morango do amor.
Uma frutinha comum, que sempre esteve aí, agora virou febre.
Ganhou brilho, ganhou palito, ganhou fila e preço de ouro.
Gente que nunca ligou pra morango agora corre atrás.
Gente com restrição alimentar, comprando mesmo sabendo que faz mal.
Gente que mal poderia gastar, abrindo mão do essencial pra não ficar de fora e por vezes pagando no doce, o que valeria uma refeição em um restaurante popular.
E não é sobre vontade, é sobre pertencer.
É sobre medo de parecer deslocado, desconectado, fora da "onda".
E isso sugere uma reflexão: quantas vezes a gente faz isso com a vida? Quantas vezes a gente paga caro demais pra ser aceito?
Seja financeiramente, emocionalmente ou fisicamente, tentando caber num corpo que não é nosso, num estilo de vida que não combina, num jeito de falar, de vestir, de sorrir que só serve pros outros aplaudirem — mas que por dentro vai nos corroendo aos pouquinhos...
A gente se estica, se encolhe, se adapta.
E vai se perdendo. Viramos vitrine:
bonitos por fora, sufocados por dentro.
E como o tal morango, a gente passa a ser consumido. Pelo olhar do outro, pelas exigências do mundo, pelas cobranças internas que nem sempre são nossas, mas que a gente carrega como se fossem.
Só que chega uma hora em que o brilho da calda vira peso.
A doçura enjoa.
A conta vem. E passa a ser cara demais.
Talvez o desafio esteja aí: resistir à tentação de se tornar o sabor da moda, pra continuar sendo o sabor da própria verdade. Ser bem mais que ter.
E tá tudo bem não querer o morango do amor. Às vezes o que a gente precisa mesmo… é de um bom gole de liberdade, livre de açúcar e cheio de amor próprio.