05/03/2025
Ser cuidadora de um familiar com demências, (cuidados paliativos) ou período temporário em casos terminais é um chamado inesperado para viver um amor que se doa na rotina do cuidado. É acordar atenta a tudo que precisará viver por si e pelo outro, é sustentá-lo ao longo do dia, é velar o sono e muitas vezes abrir mão do seu descanso...
A mulher que cuida, cuida com tudo o que tem. As mãos que preparam o alimento também trocam curativos, dão banho, medicam, seguram firme a fragilidade que se instaura em quem adoece.
Cuida com a voz que acalma, mesmo na tristeza silenciosa. Responde as perguntas difíceis, mesmo quando as respostas faltam. Cuida com o olhar que diz “estou aqui”, mesmo quando precisa ser ouvida.
Há um peso invisível que nem sempre é notado. O cansaço se instala no corpo e na alma e transforma o tempo em um fluxo contínuo de responsabilidades. Há o cansaço de quem nunca desliga, de quem vive a angústia de um futuro desejado com aquela pessoa que se dissolve diante dos olhos.
Há o luto, que começa a ser vivido aos poucos, um adeus que vem devagar, um sofrimento aparentemente discreto que rasga por dentro, mas que ninguém nomeia.
Cuidar é belo, sim, mas não precisa ser martírio. O amor que sustenta também precisa ser sustentado. A mulher que cuida também precisa ser cuidada, precisa de um espaço onde sua dor possa ser vista.
Respeitar o cansaço não é desistir. É entender que para continuar presente, é preciso saber a hora de respirar.
Reconhecer o luto antecipatório não é se entregar à tristeza. É saber que a despedida já iniciou, e que honrar esse momento com gentileza e acolhimento pode ser uma forma de se preparar minimamente para o que virá.
Sem heroísmo. Apenas humanidade.
Uma postura que inclui tudo, o amor, o cuidado, o medo, o cansaço e a saudade já tomando lugar no coração.
Se, perto de você tem alguém vivendo essa experiência como cuidadora de um familiar, seja apoio, não julgue, não cobre. Ela já carrega o mundo nos ombros.
Cuidar de quem cuida é, e sempre será, uma das expressões mais genuínas do amor....
