14/08/2025
Saiba sobre o antidepressivo VORTIOXETINA:
PONTOS POSITIVOS VORTIOXETINA:
1. Efeito pró-cognitivo
Melhora atenção, memória, flexibilidade cognitiva.
Ideal para pacientes com queixa de “cérebro lento” ou “névoa mental” associada à depressão.
2. Baixa incidência de disfunção sexual
Vantagem marcante sobre ISRS clássicos.
Boa escolha para pacientes jovens ou ativos sexualmente.
3. Mecanismo multimodal
Além de inibir a recaptação de serotonina, modula diversos receptores serotoninérgicos.
Isso amplia o leque de ação: menos apatia, mais energia e cognição.
4. Boa tolerabilidade geral
Pouco sedativo.
Baixo risco de ganho de peso.
Útil em idosos, com risco reduzido de efeitos anticolinérgicos ou ortostáticos.
5. Perfil seguro em comorbidades
Pode ser usado em pacientes com risco cardiovascular leve/moderado.
Não prolonga QT significativamente.
6. Menor risco de descontinuação abrupta
Efeitos rebote menos intensos que paroxetina ou venlafaxina.
Mais seguro para pacientes pouco aderentes.
PONTOS NEGATIVOS VORTIOXETINA
1. Efeito lento e sutil nos sintomas depressivos mais graves
Não tem ação rápida como ketamina, bupropiona ou até duloxetina.
Pode frustrar pacientes mais graves, anérgicos ou angustiados.
Muitos só percebem melhora real após 4 a 6 semanas, e de forma progressiva, não intensa.
2. Necessidade de associação frequente em quadros ansiosos
Em TAsG, fobia social, pânico ou ansiedade somática intensa, não costuma ser suficiente sozinha.
Na prática, muitos psiquiatras acabam associando:
benzodiazepínicos (no início),
pregabalina,
ou até buspirona ou ISRS puros.
3. Fraca para sintomas físicos e somatizações
Sintomas de conversão, dores corporais, queixas neurovegetativas intensas (ex: fibromialgia associada), respondem melhor a duloxetina ou amitriptilina.
Vortioxetina pode ser “cerebral demais” para esse perfil.
4. Não indicada (e até arriscada) em bipolaridade
Risco de virada maníaca ou mista, como qualquer AD.
Mas pior:
Não é estabilizador,
Não tem efeito antimaníaco residual,
Não reduz ciclos rápidos.
Deve ser usada com extrema cautela, e sempre com estabilizador de humor associado se houver suspeita de espectro bipolar.
5. Inadequada como primeira linha em transtornos complexos
Pouca evidência sólida para:
TOC,
TEPT,
Transtornos de personalidade,
Dependência química.
Nesses casos, outras moléculas mais bem testadas são preferíveis.
6. Possível ativação inicial
Pode gerar insônia, agitação leve ou irritabilidade nos primeiros dias.
Isso desestimula a continuidade em pacientes sensíveis ou sem acolhimento adequado.
7. Alto custo e dependência da indústria
Nenhuma versão genérica ainda amplamente distribuída.
Forte lobby da indústria, marketing pesado.
Dependência de receita contínua sem apoio da rede pública.
8. Efeito pró-cognitivo pode ser superestimado
Embora o efeito sobre memória e atenção exista, não é mágico.
Em pacientes com TDAH, demência, ou sequelas neurológicas, não substitui tratamento específico.
9. Risco de prescrição fora de indicação
Por ser bem tolerada e ter nome “bonito”, muitos clínicos gerais e até não-especialistas a prescrevem sem entender seus limites terapêuticos.
Isso pode levar à falsa impressão de “falência terapêutica” quando o problema era erro de indicação.
Resumo clínico crítico
Vortioxetina é elegante, mas não é para tudo. Funciona bem em um nicho específico: depressão com comprometimento cognitivo leve a moderado, sem muita ansiedade, sem polaridade, e com histórico de má tolerância a outros antidepressivos.
Fora disso, exige cautela e, muitas vezes, complementação com outras moléculas.
Compilado pelo Dr. Marcus Dalsasso Psiquiatra RQE: 33068