02/04/2022
Não há relação que se sustente sem a falta.
É a partir da falta que se abre espaço para que o sujeito possa desejar, para que possa se encontrar e se descobrir com o seu próprio vazio.
Se o Outro me basta, não falta, supre todas as minhas demandas, se faz presente sem cessar, como irei desejar a sua presença? Como irei desejar o encontro? Quem dirá uma relação.
Não há respiro, não há desejo. Há sufocamento. Há falta de ar. Falta de pausa, de falha, de fracasso.
Abafamento de desejo. Tamponamento de vazio.
Relação sem espaço para a falta é a tirania do Outro.
Aqui, nas redes (e em tantos outros lugares), damos permissão para que o Outro nos atravesse, nos invada, e supostamente nos preencha.
Não há lugar para a falta
Por isso, tento faltar
Fazer furos
(Des)acomodar
Procurar meu próprio tempo. Que tempo será?
E o vazio?
Aquele, preenchido com compras, comidas, roupas novas, carreiras profissionais, obsessões, cursos, formações e graduações, remédios pra dormir, carros (coragem, com o preço da gasolina, hein?), remédios pra acordar, compulsões, viagens, exercícios físicos, s**o, pílulas (uma infinidade de pílulas!), mentiras, casamentos, jogos, separações, famílias, bebidas e uma infinidade de outras dr**as, músicas, procedimentos estéticos, brigas, festas, filhos, filmes...
Ufa! O vazio?
Ainda não consegui encontrar.
Será que também dá pra comprar?
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Fragmentos de Escrita
Marina Corrêa Rodrigues
Psicóloga Clínica
CRP 07/28073