03/04/2025
Hoje, no Dia da Conscientização do Autismo, parei para olhar para trás e percebi que minha jornada profissional nunca foi só minha. Foi feita de encontros, de aprendizados inesperados e, incríveis.
O primeiro autista que recebi se chamava João. Faz muito tempo, bem antes de 2013 onde Autismo passou a ser chamado de TEA com a publicação do Dm_5. Quando João chegou eu mesma ainda não sabia o que descobriria depois. Mas João foi o responsável por me tirar da caixinha. Ele me fez perceber que eu nunca poderia aceitar respostas prontas, que cada autista é um mundo único e que minha missão era buscar conhecimento incessantemente, não para encaixar ninguém, mas para abrir portas.
De João até hoje, vieram muitos . Vieram com suas genialidades e dificuldades, seus silêncios eloquentes e suas falas apaixonadas sobre dinossauros, astronomia, programação, arte. Vieram com a seletividade alimentar que tanto desafiou as refeições em família, com a rigidez cognitiva que exigiu criatividade para enfrentar mudanças inesperadas. Vieram com suas ansiedades diante do imprevisível e suas vitórias brilhantes quando um desafio era superado. Pude acompanhar cada passo conquistado, cada pequena e grandiosa vitória. Cada um me ensinou que a escuta verdadeira e o olhar sem pré-julgamentos valem mais do que qualquer técnica isolada. Entendi como era necessário acolher a família.
Ao longo tempo vi modismos virem e irem, mas sempre soube que o compromisso com o aprendizado contínuo e a ciência sólida era o que nos permitiria, juntos, alcançar conquistas reais. Triste é ver os pseudo-tratamentos virando postagens de Instagram, simplificando experiências complexas e espalhando informações equivocadas que muitas vezes prejudicam mais do que ajudam. A conscientização precisa ser séria, comprometida e baseada em evidências. Isso inclui insistir que não basta a família acolher e entender: a escola precisa estar preparada, os professores precisam de suporte, os colegas precisam aprender o que significa respeito a diferenças. Precisamos falar com as outras crianças sobre essas crianças especiais, para que elas entendam. Mas, enquanto esse mundo ideal não chega, seguimos lutando. E eu, com imensa gratidão, sigo aprendendo com vocês e suas famiias.
Márcia Sillos