28/06/2025
No dia 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, é essencial lembrar que existir, para muitas pessoas da comunidade, ainda é um ato de resistência. O filme Moonlight (2016) retrata com profundidade essa vivência ao acompanhar a trajetória de Chiron, um jovem preto que cresce em um ambiente marcado por violência, racismo e homofobia. Em cada fase da vida, Chiron enfrenta o desafio de se descobrir e se afirmar enquanto o mundo ao seu redor tenta ensina-lo a esconder quem é.
A partir da filosofia de Michel Foucault, podemos olhar para essa história como expressão do que ele chamou de “dispositivo da sexualidade”: um conjunto de práticas sociais, discursos e instituições que regulam a forma como falamos (ou silenciamos) o s**o e a sexualidade. Para Foucault, não se trata apenas de repressão, mas de uma forma de poder que produz sujeitos, moldando identidades a partir de normas de normalidade, perversão e verdade.
No caso de Chiron, vemos como esse dispositivo atua desde cedo, impondo uma masculinidade rígida e excludente, onde não há espaço para a expressão do afeto entre homens fora dos códigos da violência. A repressão do desejo não se dá só por palavras ou punições explícitas, mas se manifesta nos olhares, nas ausências, nos silêncios e até nos gestos de proteção que carregam medo. Seu corpo, sua fala, seu modo de existir são atravessados por essa lógica que tenta enquadrá-lo.
Mas Moonlight também é uma narrativa de resistência, pois Chiron toca na possibilidade de existir fora das expectativas normativas. E é nesse gesto que o dispositivo da sexualidade é tensionado: falar do desejo, vivê-lo, mesmo que brevemente, é já um ato político.
Refletir sobre Moonlight com Foucault é lembrar que a luta LGBTQIAPN+ não se resume à busca por aceitação individual, mas por transformações profundas nas formas como a sociedade produz e controla as identidades.
• FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 4. ed. Rio de Janeiro, Graal, 1984. cap. 16, p. 243-76: sobre a história da sexualidade.