
11/10/2022
De todos os efeitos do enunciado “O analista se forma no divã”, creio que o pior deles é justamente o fato de que a análise pessoal acaba se transformando numa espécie “bizarra” de estágio. O que é para ser um espaço de análise pessoal vira um espaço de teoria e supervisão, um lugar de “referência teórica”, de forma que o analisante transforma o profissional psicanalista em uma referência técnica, isto é, em uma forma de exemplo de profissional. Assim, as condutas, intervenções e práticas que o profissional faz em relação ao analisante não são questionadas, sendo entendidas como “se ele faz assim, eu posso fazer também, porque está correto” ou ainda “deve ser assim mesmo a condução do trabalho do psicanalista”, o que permite a naturalização de violências e abusos no campo psicanalítico de várias formas. Da mesma forma quando um psicanalista em formação ou estudante de psicologia entra em contato com um psicanalista para fazer análise, de ambas as partes muitas vezes parece que essa análise não deve ser tratada como “algo comum”, como se, nestes casos em decorrência da famigerada formação psicanalítica, essa análise deve seguir outros caminhos.
Notem que não estou dizendo aqui que a análise pessoal não é importante, estou dizendo que precisamos dar a ela o lugar efetivo que ela ocupa. Creio que este enunciado acaba encobrindo diversos problemas que, na impossibilidade de pensarmos nos seus efeitos, acabamos repetindo no nosso campo.