
03/04/2025
O filme Canina aborda de maneira irreverente e provocativa o universo da maternidade. O que resta às mulheres depois que se tornam mães?
Acompanhamos uma protagonista sem nome que passa os dias inteiramente dedicada aos cuidados do seu bebê. De forma nada sutil, o filme evidencia como a individualidade das mulheres pode ser apagada após a maternidade.
À medida que a trama avança, vemos essa mulher questionar se estaria se tornando histérica ao perceber mudanças em seu corpo ou por lamentar que ele jamais terá o mesmo de antes da gestação. Pelos, rugas, rabo de cachorro, latidos – elementos que podem parecer grotescos e fantásticos tornam-se metáforas poderosas quando inseridos na narrativa da maternidade.
A questão que permanece é: o que ainda sobrevive em uma mulher após a experiência profunda e avassaladora de gerar um (a) filho (a)?
A fantasia surge como um recurso e um espaço de resgate do feminino, uma válvula de escape para lidar com a angústia de uma realidade que pode ser esmagadora. Afinal, é desumano cuidar de um bebê sozinha.
Vemos, então, nossa protagonista correndo livremente pela noite, farejando, latindo, caçando. Seus instintos, antes reprimidos, tornam-se essenciais para sua sobrevivência. É nesse momento que testemunhamos o renascimento de uma mulher radiante e criativa, que finalmente se reconecta com sua essência mais profunda.
No livro mulheres que correm com os lobos - Clarrissa Pinkola Estés afirma “... o lugar onde a mente e os instintos se misturam, onde a vida profunda da mulher embasa sua vida rotineira. É o ponto onde o Eu e o Tu se beijam, o lugar onde as mulheres correm com os lobos.” p. 25
“Quando uma mulher é forte em sua natureza instintiva, ela reconhece por instinto o predador inato pelo cheiro, pela aparência, pelos ruídos... ela prevê sua presença, ouve sua aproximação e toma medidas para afastá-lo.”
p. 55
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