
04/07/2025
A pornografia, por mais acessível e comum que seja, não é neutra. Ela influencia desejos, expectativas e padrões de intimidade, muitas vezes de forma sutil e silenciosa. Para algumas pessoas, funciona como estímulo, fantasia ou complemento. Para outras, pode se tornar fonte de conflito, frustração e isolamento.
Quando o consumo se torna compulsivo ou passa a ser a principal fonte de prazer, o corpo e a mente começam a responder de maneira defensiva e distorcida. O desejo real é ofuscado por padrões idealizados, a realidade passa a parecer desinteressante e insuficiente, o toque perde valor e a presença do outro pode se tornar incômoda. A fantasia ganha força, enquanto a intimidade concreta enfraquece.
Nem tudo que excita, conecta. Conexão exige presença, escuta e disponibilidade genuína. Quando o desejo é alimentado quase exclusivamente por imagens, roteiros e fantasias prontas, a intimidade compartilhada tende a se tornar mecânica, distante ou apenas uma obrigação. O outro deixa de ser parceiro de troca e se transforma em parte de um cenário que já não corresponde às expectativas.
Falar sobre pornografia é, antes de tudo, falar sobre desejo, afeto, autonomia, vulnerabilidade e escolha.
Não se trata de demonizar, mas de compreender o espaço que ela ocupa na vida afetiva e sexual. E, principalmente, de reconhecer o que está sendo deixado de lado por causa disso.
Quando o prazer é terceirizado, o corpo adormece. Quando a fantasia ocupa todo o espaço, o vínculo se enfraquece. A pornografia, quando se torna refúgio constante, molda o desejo, empobrece a experiência, rouba presença, afasta e, muitas vezes, nos desconecta de nós mesmos. O desafio não é eliminá-la, mas resgatar o que ela pode estar silenciando: a potência dos encontros reais, imperfeitos e vivos.
Rogerio Maia
Psicólogo/Sexólogo
CRP-08/31126