
29/07/2025
Hoje fui atender uma senhora numa casa de repouso. Olhos miúdos, mas cheios de mundos. E no meio da conversa, ela disse algo simples, mas cortante:” Tenho saudades de quem eu era…”
Aquilo me atravessou. Caramba, eu também. Quarenta anos nos separavam no tempo,mas naquele instante, estávamos no mesmo lugar: uma saudade que não é de ninguém, senão da gente mesma.
Falávamos de nós como quem fala de um amor antigo,com ternura, com dor, com um sorriso que desaba. Ela, de suas caminhadas pelas ruas e das viagens fantásticas. Eu, do meu reflexo no espelho em que não me reconheço mais.
Duas mulheres, dois tempos, o mesmo nó na garganta. E ali compreendi: sempre teremos saudades de um lugar que já fomos.Sempre haverá um “eu” do qual a gente parte e que às vezes tenta voltar em sonho, em cheiro, em música, em silêncio. Talvez um dia,com cabelos prateados e rugas nas mãos, eu sinta saudades deste agora: do cansaço jovem, das dúvidas com fôlego, da pressa de ser, da ânsia de encontrar. E direi, com os olhos no vazio ou em alguém: Tenho saudades de quem eu era…
E talvez, nesse dia, alguém mais jovem pense: Caramba, eu também. E o ciclo seguirá,
nos lembrando que crescer também é se despedir. De fases. De corpos. De versões.
De nós.
Um abraço no coração ❤️