20/07/2019
Conversa de poltrona.
Eu já nem sei quantas horas passaram enquanto eu olhava para aquele teto. Não havia novidade nenhuma nele, nem se quer um mísero inseto por ali pairava. O vazio de imagens refletia o vazio em mim. Não sei bem o que eu sentia, foi quando de repente uma lembrança me veio, senti meu rosto pesado, os olhos se atritavam com a pálpebra inchada. Havia sido uma longa noite de angústias, pensamentos ruins, palavras e lembranças que não me deixavam. Neste momento me perguntei: como pode só uma imagem em meu pensamento me atingir tanto assim? Doía tanto, mas para quem eu ia dizer? Me lembrei de ter pensado em tirar minha vida, de me sentir um nada, de não ver solução para o que eu passava. Eu era a pior das espécies, a pessoa que fazia tudo errado, a azarada, descontrolada, impulsiva, não havia nada que, em minhas mãos, eu pudesse controlar. Aaah meu peito queimava, a cabeça fervia, a barriga doía, as mãos suavam. Que arrependimento, meu Deus, que sensação horrível. Sinto que não sou ninguém, sinto que não há o que fazer... Me lembrei da dica dada na palestra "deixe em sua carteira o nome e telefone de 4 pessoas para quem você possa ligar em momentos de angústia". Celular em mãos e um receio enorme no peito: mas quem sou eu para incomodar o outro com os meus problemas? Lembrei de quantas vezes eu tentei falar e não fui compreendida. Lembrei de ouvir dizerem que meus problemas não eram nada, que haviam pessoas pior, que eu deveria trabalhar, procurar uma igreja. E se eu ouvir isso tudo mais uma vez? E se me disserem que eu não deveria estar assim, pois sou uma pessoa maravilhosa? Novamente aquele pensamento: eu não sou nada, está tudo errado, eu faço tudo errado, o problema sou eu, seria melhor não estar aqui. Eu não era agora nada além de um turbilhão. Respirei, o ar me deu uma sensação de peso maior no meu peito. Que dia ruim, que vida ruim, eu sou tão ruim assim? Pra que tanto sofrimento, meu Deus? Meu celular tocou, era uma mensagem de uma amiga. Senti um fio de esperança "alguém se lembrou de mim". Ela me perguntou se eu estava bem. Pois é, lembra daquela lista? O nome dela estava lá! Eu poderia ter dito que tudo corria bem, mas resolvi ser sincera comigo, então eu disse que algumas coisas haviam acontecido. Sabe o que ela fez? Me acolheu! Disse sobre os problemas, e enquanto ela me falava, tudo parecia ter um ar de solução, já não era, enfim, aquele monstro que me corroía, ela estaria ali comigo em qualquer situação. Em um instante lembro de não me ater ao que ela falava, mas reparei na sensação que eu tinha de ter alguém comigo, me dando forças ao invés de me reprimir. Quando aquela conversa terminou eu sorria, até estranhei a ausência da lágrima. Preferi me ater a alegria, ao ânimo de ter alguém pra quem recorrer.