29/05/2025
“Coloca a correntinha em mim também, pai...”
Essa me tocou profundamente. Um lembrete suave para todos os pais.
- “Coloca a corrente em mim,” sussurrou o menino, com os olhos cheios de esperança silenciosa.
Aquela manhã foi como tantas outras:
- ”Levanta! Lava o rosto! Penteia o cabelo! Veste a camisa — depressa!”
- ”Sem tempo para o pequeno-almoço! Leva o sumo contigo — e não entornes!”
- ”O que acabei de dizer, hein? Já sujaste! Estou farto disto. Nunca fazes nada direito!”
O menino não disse nada.
Ele não conseguia dizer “pai”.
Tinha medo.
Na escola, não conseguia concentrar-se.
Estava sempre distraído. Sempre triste.
Ficava a pensar porque é que os outros meninos eram felizes... e ele não.
Mais tarde naquele dia, num raro momento de coragem, falou:
- ”Hoje a professora perguntou: ‘O que é que o teu pai faz?’ E eu não soube o que responder...”
- ”Treino cães,” respondeu o pai, ainda sem olhar.
- ”E o que é que lhes ensinas?” perguntou o menino em voz baixa.
- ”A obedecer. A não destruir as coisas. A proteger. A guiar os cegos. A salvar vidas. A serem pacientes, corajosos e leais. E a fazerem tudo isso... sem esperar nada em troca.”
- ”E como é que os treinas?”
- ”Só coloco uma correntinha neles. Ando ao lado deles, falo com calma, corrijo sem magoar, e depois dou carinho — para saberem que não estou zangado.
- Mas é preciso paciência... muita paciência.”
- O menino engoliu em seco. Os olhos encheram-se de lágrimas.
- Olhou para o pai e disse com a voz trémula:
- - “Então põe a correntinha em mim também, pal...
- Quero aprender contigo.
- Corrige-me sem gritar.
- Abraça-me depois.
- Tem paciência comigo.
- Eu vou proteger a nossa casa. Vou aprender a cuidar dos outros.
- E se um dia... tu perderes a visão, eu serei os teus olhos.
- Só... põe a corrente em mim.”
- O pai desabou em lágrimas.
- E naquele abraço, formou-se uma nova corrente -
- Invisível, feita de amor, paciência e ternura.
- Uma que, se for bem cuidada, nunca se parte.