17/10/2025
"Quando encontrei meu guru, ele me disse: "Você não é o que acha que é. Encontre o que você é. Observe a sensação “Eu sou”, encontre seu verdadeiro Eu”. Eu obedeci, porque confiava nele. Fiz como ele me disse. Todo meu tempo livre eu passava olhando para mim mesmo em silêncio. E que diferença isso fez, e muito depressa!
Meu guru me disse para agarrar a sensação “Eu sou” tenazmente e não me desviar dela nem por um momento. Fiz o melhor que pude para seguir seu conselho e em pouco tempo realizei dentro de mim mesmo a verdade de seu ensinamento. Tudo que eu fazia era relembrar seu ensinamento, sua face, suas palavras constantemente. Isso trouxe um fim à mente; na quietude da mente vi a mim mesmo como Eu Sou.
Simplesmente segui a instrução de meu mestre para focalizar a mente no puro ser “Eu sou”, e permanecer nele. Eu costumava sentar-me horas seguidas, com nada em minha mente a não ser “Eu sou” e logo a paz, a alegria e um profundo amor se tornaram meu estado normal. Nesse estado tudo desaparecia – eu mesmo, meu guru, a vida que eu vivia, o mundo ao meu redor. Apenas a paz permanecia, bem como um silêncio insondável.
Meu guru me ordenou para prestar atenção à sensação “Eu sou” e a nada mais. Simplesmente obedeci. Não pratiquei nenhum pranayama, meditação ou estudo das escrituras. Qualquer coisa que acontecia, eu tirava minha atenção daquilo e permanecia na sensação “Eu sou”. Isso pode parecer muito simples, até mesmo grosseiro. Minha única razão para fazer isso era que meu guru me tinha dito para fazer. E mesmo assim funcionou! A obediência é um poderoso solvente de todos os desejos e medos.
Não há propósito em nada que faço. As coisas acontecem por si mesmas, não porque as faço acontecer, mas porque Eu Sou elas acontecem. Na realidade nada jamais acontece. Quando a mente está inquieta, ela faz a dança de Shiva, como as águas inquietas de um lago fazem a dança da lua. É tudo aparência, devido a ideias erradas.
Em qualquer papel que esteja representando e qualquer função que realize, permaneço o que sou: o “Eu sou” imóvel, inabalável, independente.
Quando digo “Eu sou”, não me refiro a uma entidade separada com um corpo como seu núcleo. Eu me refiro à totalidade do ser, ao oceano da consciência, ao universo inteiro de tudo que existe e conhece. Nada tenho a desejar, pois estou completo para sempre.
As palavras escondem seu vazio. O real não pode ser descrito, ele deve ser experimentado. Não posso encontrar palavras melhores para o que sei. O que digo pode parecer ridículo. Mas o que as palavras transmitem é a mais alta verdade. Tudo é um, e tudo é feito para satisfazer a fonte única e meta de todo desejo, a qual todos conhecemos como o “Eu sou”.
Assim como o sol é refletido em um bilhão de gotas de orvalho, assim aquilo que é sem tempo é eternamente repetido. Quando repito: “Eu sou, Eu sou”, simplesmente reafirmo um fato sempre presente. Vocês se cansam de minhas palavras porque não veem a verdade viva atrás delas. Entrem em contato com essa verdade e descobrirão o pleno significado das palavras e do silêncio – ambos.
Confiei em meu guru. O que ele me disse para fazer, eu fiz. Disse que me concentrasse no “Eu sou” – eu o fiz. Disse-me que “Eu sou” está além de tudo que é percebido e pensado – eu acreditei. Você pode escolher o caminho espiritual que melhor se adequa a você. Sua determinação em seguir esse caminho vai determinar o grau de seu progresso.
Em primeiro lugar, estabeleça um contato constante com seu ser interior, esteja com seu ser o tempo todo. Na autoconsciência todas as bênçãos fluem. Comece como um centro de observação, de deliberado conhecimento, e cresça até tornar-se um centro de amor em ação. “Eu sou” é uma pequena semente que vai crescer até se tornar uma poderosa árvore – de modo completamente natural, sem nenhum esforço.
Estabeleça-se firmemente na consciência do “Eu sou”. Este é o começo e também o fim de todo esforço.
Agarre-se à sensação do “Eu sou” excluindo tudo o mais. Quando a mente se torna assim completamente silenciosa, ela brilha com uma nova luz e vibra com um novo conhecimento. Tudo vem espontaneamente, você apenas precisa agarrar-se ao “Eu sou”.
Recuse todos os pensamentos, exceto um: o pensamento “Eu sou”. A mente vai se rebelar no início, mas com paciência e perseverança ela vai se submeter e se aquietar. Quando você estiver na quietude, as coisas começam a acontecer espontânea e naturalmente, sem nenhuma interferência de sua parte.
Apenas mantenha na mente o sentimento “Eu sou”, mergulhe nele, até que sua mente e seu sentimento se tornem um. Através de repetidas tentativas você vai se estabelecer no correto equilíbrio entre atenção e afeição e sua mente estará firmemente concentrada no pensamento-sentimento “Eu sou”. Em tudo que você pensar, disser ou fizer, essa sensação imutável e afetiva de ser permanece como o pano de fundo sempre presente de sua mente.
Para saber quem você é, deve primeiro investigar e saber o que não é. E para saber o que você não é, deve observar cuidadosamente a si mesmo, rejeitando tudo que necessariamente não acompanha o fato básico: “Eu sou”. Separe de modo consistente e perseverante o “Eu sou” de “isso” ou “aquilo”, e tente sentir o que significa “ser”, apenas “ser”, sem ser “isto” ou “aquilo”.
Deixe de lado todas as questões, exceto uma: “Quem sou eu?” Afinal, o único fato do qual está seguro é que “você é”. O “Eu sou” é certo. O “Eu sou isto” não é. Lute para descobrir quem você é na realidade.
Apegue-se a uma coisa, à coisa que importa, apegue-se ao “Eu sou” e deixe de lado tudo o mais. Isso é sádhana. Na realização nada existe a que se agarrar e nada para esquecer. Tudo é conhecido, nada é lembrado. Apenas se lembre. “Eu sou” é suficiente para curar sua mente e leva-lo além. Apenas tenha confiança.
Pare de buscar e veja – está aqui e agora, é aquele “Eu sou” que você conhece tão bem. Você não pode realmente dizer “isto é o que eu sou”. Não faz nenhum sentido. “Eu sou” é conhecimento de primeira mão e não precisa de provas. Permaneça nesse conhecimento.
Fique satisfeito com aquilo do qual você tem certeza. E a única coisa de que você tem certeza é “Eu sou”. Permaneça nesse estado e rejeite tudo o mais. Isso é Yoga.
Volte para aquele estado de puro ser, onde o “Eu sou” ainda está em sua pureza antes de ser contaminado com “Eu sou isto” ou “Eu sou aquilo”. A carga da sua vida é devida a falsas auto-identificações – abandone-as todas.
Você não percebe que é sua própria busca por felicidade que o faz sofrer? Tente uma outra maneira: indiferença à dor e ao prazer, nem buscando nem recusando, coloque toda sua atenção no nível onde o “Eu sou” está eternamente presente. Logo você realizará que a paz e a felicidade estão em sua própria natureza e que é apenas por procura-las através de alguns canais particulares que perturba você.
Dê seu coração e sua mente ao pensamento sobre o “Eu sou”, o que ele é, como ele é, qual é sua fonte, sua vida, seu significado. É bem parecido a cavar um poço. Você rejeita tudo que não é água, até alcançar a fonte da vida.
O “Eu sou” que busca o prazer e evita a dor é falso; o “Eu sou” que vê que prazer e dor são inseparáveis vê corretamente. Aqueles que praticam o sádhana de concentrar suas mentes no “Eu sou” podem sentir-se relacionados a outros que têm seguido o mesmo sádhana e foram bem sucedidos.
Não se preocupe com suas preocupações. Apenas “seja”. Não tente aquietar a mente; não faça do “estar quieto” uma tarefa a ser realizada. Não fique inquieto sobre “estar quieto” nem fique infeliz sobre “ser feliz”. Apenas esteja consciente de quem você é e permaneça consciente. Não diga “Sim, eu sou; e agora?” Não há nada depois no “Eu sou”. É um estado atemporal.
A sensação “Eu sou” é algo minúsculo, um ponto, um átomo. A luz pela qual você vê o mundo, é este minúsculo ponto “Eu sou”, aparentemente tão pequeno, e ainda assim a primeira e última coisa em todo ato de conhecer e amar.
Sem o “Eu sou”, nada existe. Fora do Eu nada existe. Tudo é um e está contido no “Eu sou”. O “Eu sou” em movimento cria o mundo. O “Eu sou” em paz se torna o Absoluto. O “Eu sou” é o fato final; “Quem sou eu?” é a pergunta final para a qual todos devem encontrar uma resposta.
Você já experimentou tantas coisas, tudo se tornou nada. Apenas a sensação “Eu sou” persistiu, imutável. Permaneça com o que é imutável entre as coisas mutáveis, até que seja capaz de ir além.
Existem muitos caminhos na vida espiritual – todos levam à mesma meta. Você pode começar com serviço inegoísta, abandonando os frutos da ação. Ou você pode eliminar os pensamentos ou os desejos. Ou pode agarrar-se ao pensamento-sentimento “Eu sou”. Todo tipo de experiência pode vir a você; permaneça firme no conhecimento de que tudo que se percebe com os sentidos é transitório, e que apenas o “Eu sou” permanece.
Vá para casa, cuide dos negócios de seu pai, cuide de seus pais em sua velhice. Case-se com a garota que o está esperando, seja leal, seja simples, seja humilde. Esconda sua virtude, viva silenciosamente. E que “Eu sou” seja seu grande mantra."
Sri Sri Nisargadatha Marahaj