24/01/2025
Traição
Maria Ofelia Fatuch
A vida não é uma obra de arte e nada pode durar para sempre
A vida e o amor são fugazes e é por isso que nos apegamos tanto a eles
Quando o tema é sexualidade os cinemas ficam repletos, para assistir o que já se sabe. Talvez aprender algo diferente na arte de seduzir. No entanto os prazeres e fetiches só existem com um “novo” parceiro. Afinal diariamente ninguém quer reconquistar o que já foi conquistado
O casamento desmoronou: Um caso! Como é frequente o caso no casamento, a infidelidade foi mais um sintoma do problema do que a causa
O filme “Baby Girl” retrata a mulher atual, poderosa profissionalmente, bonita, casada com filhos. Tudo para rotular uma família perfeita. Além do marido nos mesmos moldes, lindo, gentil, bem sucedido e apaixonado. Sexualmente ativo, entregando-se as fantasias amorosas da esposa.
O que poderia dar errado? Teoricamente nada. A não ser a rotina extenuante
No relacionamento prolongado, sem mensurar o tempo, relativo a cada um, precisa renovação e diálogo. Perde-se a individualidade. Periodicamente rever o contrato inicialmente pré-estabelecido pelo casal. Mais ou menos isso: “O que é combinado não custa caro”
No decorrer dos anos ambos amadurecem e tem momentos distintos de vida e como manter o desejo por uma mesma pessoa que já é outra?
A primeira experiência amorosa ocorre ao nascimento: a mãe e o bebê. E segundo Freud: “Sua majestade, o bebê” É um vínculo abusivo, na tentativa de sobrevivência. Afinal se ele não chorasse seria abandonado.
Através dos pais aprende-se o que é o amor e nesse momento definirá como amaremos. Volto ao filme, a atriz sofreu abuso sexual. Em geral ocorre por pessoas que deveriam nos proteger
A necessidade de uma intervenção psicanalítica, o corte. A procura do terapeuta, pode não ser suficiente para abandonar o que estava latente.
Entra o “outro (a)”, quem não se espera, mas se deseja! Nesse momento as fantasias são correspondidas e uma falsa felicidade. O outro pode não estar ligado afetivamente. A paixão é fugaz, vira amor se for bilateral e em construção
Todo casal clandestino acredita no sigilo, as barreiras invariavelmente serão rompidas. A mentira não é sustentável. E aí vem a explicação de quem traiu. A dor da rejeição e a objetivação do outro como posse pelo traído. A comparação e o desprezo de quem conseguiu o troféu amoroso.
O ressentimento é permanecer na dor, repete-se a narrativa que somos vítimas e outro o vilão impedindo assumir responsabilidades pelo o que ocorreu e nos distancia da elaboração verdadeira do luto
Nem sempre se encontram justificativas, talvez estejam nas profundezas do inconsciente. Toda traição diz mais a respeito de quem traiu; e o que se perdeu ao longo dos anos
Quando buscamos um terceiro, não estamos virando as costas ao parceiro, mas à pessoa que nos tornamos. Não buscamos outra pessoa, buscamos um “outro” de nós mesmos.
O casal chega ao fim, precisam dar dignidade ao que sobrou. Ainda assim, poderá ser resgatado? O respeito, a confiança, a parceria, o amor? O que não resistiu irá ser reconstruído? O traidor deveria sinalizar antes de acontecer ao traído. Porém, esse não terá escuta, e sim julgamento. No mundo das incertezas ninguém quer perder o que já foi conquistado. E esse, não faz nada para surpreender.
O retorno! Em um casamento muitos tópicos estão envolvidos: financeiro, status, profissão, filhos. O faz de conta que... é melhor do que o pavor ao desconhecido. Como saber se o outro estará com você emocionalmente novamente, nunca saberemos. A única traição imperdoável, é a sua própria traição. Sustente o seu desejo!
Voltando ao amor mais sublime do bebê e a mãe. Todos o abandonamos no desenvolvimento. E por que vivemos para sempre com um parceiro que não supre mais as nossas expectativas?
Eu te amo! É uma afirmação forte, vulgarizada. Ama a quem? O que o outro desperta em você. E ao deixar esse amor, morre quem você era para o outro. Essa é a justificativa do sofrimento amoroso. O luto de perder a si próprio
O desejo muda e o objeto desejante. Portanto, o amor não será mais o mesmo. A cada pessoa desse universo amamos de formas diferentes e às vezes, simultaneamente. Amar não tem gênero e nem validade
Não tenho certeza se nos apaixonamos pelas pessoas ou se nos apaixonamos pela maneira como elas nos fazem sentir, pelas maneiras como expandem quem somos e desejamos ser
Desapegue-se de alguém que provocou dor! Isso não é amor
“Não importa. Tente outra vez. Falhe outra vez. Falhe melhor” (Samuel Beckett)
A vida não é uma obra de arte e nada pode durar para sempreA vida e o amor são fugazes e é por isso que nos apegamos tanto a elesQuando